Portugal está em crise. Pessoas sofrem, a pobreza e o desemprego sobem e, no Terrível ajustamento necessário, os mais fracos são os mais afectados, por vezes os únicos afectados
Portugal está em crise. Pessoas sofrem, a pobreza e o desemprego sobem e, no Terrível ajustamento necessário, os mais fracos são os mais afectados, por vezes os únicos afectadosOs desafios sociais que enfrentaremos nos próximos meses serão formidáveis. É urgente ser capaz de lidar com esta questão como cristão. Tal conclusão é fácil de formular e com ela muitos concordam. O que é difícil é compreender todas as dimensões que essa opção implica. No que toca à disponibilidade fraternal para ajuda aos mais pobres o consenso é evidente. Mesmo se nem sempre lhe damos o cumprimento devido, os cristãos em geral estão de acordo na sua necessidade. Para mais em momentos como este, em que o Estado, que durante tanto tempo se quis arrogar o domínio da solidariedade, falha rotundamente nessa função, a Igreja é quase a única instituição para quem se dirigem os olhos dos necessitados. a Igreja portuguesa tem de estar à altura da situação. Mas um tratamento cristão da conjuntura recessiva está longe de se limitar à assistência. Temos de aprender a ter uma atitude de verdadeiro apóstolo diante destas dificuldades porque, como sabemos bem, a crise, tal como tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (cf. Rm 8, 28). Um segundo elemento é deixar a indignação que domina o país. Talvez o sentimento mais divulgado nestes dias seja de revolta perante estas dificuldades. Foram-nos prometidas coisas, asseguraram-nos direitos, e afinal tudo se desmorona. É essa zanga que nos impede até de contemplar a redução do nível de vida que nos faria retornar uns anos atrás. Não é tolerável esse recuo. Mas é importante dizer que este sentimento vem sobretudo, não das dificuldades, mas da nossa ilusão, até da nossa arrogância. Devemos aprender a contentar-nos com o que há, e ainda usar isso para ajudar os que estão pior que nós. Deixarmos sonhos irrealistas, promessas míticas, certezas ilusórias é cada vez mais urgente. Temos de viver com aquilo que temos, e fazê-lo de forma alegre, positiva, solidária. Claro que, dadas as circunstâncias isso não é nada fácil. Mas não o fazemos sozinhos. Vem connosco aquele que não se valeu da sua igualdade com Deus mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. (Fl 2, 6-7). Se Jesus desceu até nós, como nos atrevemos a recusar descer o nível de vida? ainda mais importante, a atitude cristã, além de ser solidária e pacífica, tem de ser esperançosa. Nestes tempos negros é difícil aos portugueses encontrar motivos de esperança. Mas eles têm de saber que isso é o que encontram sempre na Igreja. Porque nós temos o dever de estar sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito (1Pe 3, 15-16).