Do oceano índico à fronteira do Malawi, a diocese de Gurué mede cerca de metade de Portugal. Tem 42 mil quilómetros quadrados e é brindada com uma enorme riqueza
Do oceano índico à fronteira do Malawi, a diocese de Gurué mede cerca de metade de Portugal. Tem 42 mil quilómetros quadrados e é brindada com uma enorme riquezaHabitada por luzes e sombras, a sua maior riqueza é a população: dois milhões de habitantes, com 50 por cento de católicos. Luzes são as duas mil comunidades, animadas por leigos que as orientam nas celebrações dominicais, na catequese e na formação, explica o bispo de Gurué, Francisco Lerma.com três dezenas e meia de padres, a diocese não tem nada de clerical. É uma expressão que não se refere a nós, clarifica o prelado missionário da Consolata, espanhol, natural de Múrcia: Uma Igreja ministerial bem edificada, enraizada no povo. Situada no triângulo mais produtivo do ponto de vista agrícola – Malema, Cuamba e alto Molocué – a região de Gurué é muito rica. Mas são muitíssimas as sombras de chagas sociais. O prelado enumera três: a assistência sanitária, a educação com níveis muito baixos e o tráfico humano. Um corredor de passagem do tráfico atravessa a diocese, desde a fronteira da Tanzânia, passando pela alta Zambézia e Nampula, em direção à África do Sul. Tráfico humano significa migração clandestina; tráfico de seres humanos: jovens e meninas para a prostituição; e, por fim, o tráfico de órgãos. É um problema que afeta angola, Namíbia, Botsuana, Zimbabué e Malawi. Entre luzes e sombras, há muita esperança. Não obstante as dificuldades, lutamos para levar por diante um projeto pastoral. Quatro sonhos de um bispo O tema da minha primeira mensagem, apenas eleito bispo há ano e meio, é o primeiro sonho: união e comunhão de todos os agentes da pastoral. O segundo tem a ver com uma evangelização atual e renovada. Moçambique de hoje já não é o mesmo do tempo colonial, nem da revolução ou da FRELIMO; os jovens, os adultos, a política, tudo é completamente diferente. O terceiro sonho é uma boa formação dos agentes da pastoral. Criámos escolas de leigos, para uma formação adequada aos tempos de hoje. O quarto sonho é a sustentabilidade económica, a partir das bases locais, sem depender totalmente do exterior. Dia do bispo em duas versões O dia da visita pastoral é de triunfo. Sou recebido como o bom pastor, com capulanas estendidas no chão, grinaldas de flores, celebração, festa, muita dança, muitos crismas. É dia de festa, mas também de trabalho. Reúno o conselho da comunidade, escuto os leigos, os problemas e, às vezes, são problemas graves. Mas há o dia a dia, na sede.começo o dia, de manhã cedo.com dois padres que estão comigo, inicio com a adoração diária ao Santíssimo Sacramento, cerca de duas horas de oração, incluindo a celebração da missa. Segue-se o corrupio das pessoas que querem falar com o bispo. Sem protocolos, sem audiências marcadas. Dias normais de muito diálogo, mas também de correspondência, de resposta a muitos questionários. Muitas horas passadas no escritório. Há ainda uma hora para passear. O bispo já não é tão jovem e tem de queimar as gorduras e o açúcar. a noite é reservada para a internet, para atualizar o nosso blogue e a nossa página Web, para responder aos emails. Projetos do bispoUns são materiais, voltados para reabilitar as antigas sedes de missão, recuperar todo o património que foi perdido. Há projetos para as pessoas. Queria um seminário menor para os jovens que se abrem à vocação. Em terceiro lugar, ambiciono que cada missão, cada paróquia, tenha o pessoal suficiente para a pastoral; e, quarto, responder aos problemas gritantes e dramáticos da hora presente, sobretudo na saúde e na educação. Há projetos para combater tantas injustiças, o tráfico de seres humanos e a ocupação das terras pelas grandes companhias que estão a entrar. O prelado alerta para o problema da falta de terra para as pessoas, daqui a pouco tempo. Dois desafios para o bispo a nível interno é preciso responder com equilíbrio e serenidade aos diferentes problemas que a sociedade nos coloca. as injustiças, os pequenos conflitos criam a necessidade de restabelecer o tecido social, ainda não completamente restabelecido depois da guerra. Dar um salto qualitativo na vida política, social e económica do país. Outro desafio é a nível dos bispos: Criar maior comunhão entre nós, para que haja uma pastoral de conjunto entre todos nós, que saibamos responder como conferência episcopal à hora presente do país. São desafios grandes!.