O futuro bispo auxiliar do patriarcado de Lisboa fala à Fátima Missionária dos desafios da nova evangelização.
O futuro bispo auxiliar do patriarcado de Lisboa fala à Fátima Missionária dos desafios da nova evangelização.
FM: João Paulo II lançou o desafio da nova evangelização. No nosso país aumenta a mobilidade das pessoas, com um grande número de imigrantes.como pode a Igreja dar resposta a esta nova realidade?
a. O. : Há trabalho que está a ser realizado neste campo, sobretudo nos bairros mais excluídos, muitos deles compostos por pessoas vindas de fora. Deve dar-se realce ao trabalho realizado pelas ordens religiosas neste campo.
Há uma grande mobilidade, por necessidade. as pessoas estão menos ligadas a um território. Muitas pessoas vivem na cidade, mas vão para o campo durante o fim-de-semana. a paróquia a nível territorial não acabou, mas precisa de usar meios diferentes para acompanhar a mobilidade das pessoas. Fátima tornou-se para muitas pessoas o lugar da prática religiosa dominical.
Os meios de comunicação colocam-nos no fenómeno da globalização. Pode-se chegar a todo o mundo de uma maneira imediata. Estes são meios a utilizar não só para informar, mas também para transmitir a mensagem cristã.
Quanto à formação, outro elemento importante, foi lançado em Madrid um esquema de formação teológica para leigos. a própria faculdade de teologia criou um curso de formação de catequistas com muito bom resultado.
Há quem diga que o tempo da Europa cristã já passou. Eu sou optimista. Um optimismo motivado pelo valor da própria mensagem. a mensagem cristã sempre se inculturou e adaptou aos tempos e desafios. Sinal de esperança é ver como gente nova descobre a mensagem cristã e a assume de um modo muito radical. Estou convencido que, contrariamente ao que gente de muita responsabilidade afirma, o cristianismo não tem os dias contados na Europa.
FM: O anterior pontificado foi marcado pelo diálogo com outras religiões e com as culturas. Que se está a fazer em Portugal nesse sentido?
a. O. :é uma nova realidade, fruto do Concílio Vaticano II, que mudou o modo como olhamos para as outras religiões. Estas iniciativas nem sempre são bem recebidas. Não é fácil entender esta abertura da Igreja às outras religiões.
é um fenómeno novo, que acho extremamente positivo. Tem a ver com os tempos que vivemos. O Papa teve atitudes e acções que marcaram a nossa época, conseguindo reunir pessoas de todas as religiões naquilo que elas têm em comum: o homem. Os encontros de assis foram momentos fortes e marcantes.
Em Portugal, estamos a caminhar um pouco atrás do desafio que o Papa deixou. De certo modo temos que nos adaptar ao condicionalismo português, onde os católicos estão em esmagadora maioria. Os primeiros passos foram dados no sentido da aproximação às outras comunidades cristãs, no âmbito do ecumenismo. ao nível de contacto com outras religiões temos já iniciativas no âmbito das faculdades de teologia que se debruçam sobre outras religiões, chegando a ter membros de outras religiões a participar em conferências.
é interessante que entre os que me escreveram felicitando-me pela nomeação, estejam pessoas de outras religiões. Esse é um sinal das boas relações que são mantidas com o patriarcado.
a iniciativa tem que partir de nós, já que somos a maioria. Mas temos que ter muita cautela para que não haja a impressão de proselitismo. Isso obriga-nos a avançar e a recuar. Não é um processo linear e está sempre sujeito a críticas.