Fico impressionado como as cores e a fragrância de uma flor podem ativar a nossa memória sensorial que funciona como uma biblioteca do cérebro
Fico impressionado como as cores e a fragrância de uma flor podem ativar a nossa memória sensorial que funciona como uma biblioteca do cérebroTal como numa biblioteca tradicional, a informação registada pelo olfato, visão, tacto e gosto, é classificada, arquivada e indexada de diversas formas na nossa mente. Mas não é por aqui que quero entrar nesta reflexão. Quando evoquei no início deste texto a flor, recordei a minha avó. ao passar por uma florista, o perfume das camélias transportou-me sem muito esforço para os momentos vividos na sua casa, onde as flores do jardim testemunharam tantas horas de conversas que tivemos durante as minhas férias. a vida é uma viagem, costumava dizer-me, enquanto avaliava o passado. Pessoalmente, acho que as pessoas nunca viajaram tanto como nos dias de hoje. a publicidade e o marketing das agências de viagem conseguiram tocar no mais íntimo da natureza humana: o eterno desejo de mexer na procura do sentido. Viajar, turisticamente falando, tem-se tornado hoje muito mais fácil que outrora. Os meios de transporte são diversos, as propostas abundam, a facilidade de pagamento é uma grande tentação e o mundo por conhecer é cada vez maior. Dentro do âmbito do prazer este fenómeno tem a sua piada, mas o que me preocupa verdadeiramente é o descuido evidenciado por muitas pessoas em relação à viagem da vida, que envolve e dá sentido à nossa existência neste mundo. Tal como a mãe do meu pai, acho que a vida é uma viagem. Portanto, considero que é preciso estarmos sempre preparados. Curiosamente, a palavra viagem deriva do latim e foi institucionalizada pelos romanos: eles chamavam viaticum às provisões que uma pessoa devia assegurar antes de empreender uma travessia. Provisões da viagemUma das coisas mais bonitas da minha vocação missionária é o facto de viajar muito pelo mundo. Esta praxis’ tem-me dado alguns ensinamentos no que respeita à arte de viajar. Proponho, por isso, três provisões necessárias, que entendo não poderem faltar a quem quer entrar a sério na barca da vida. PassaporteO passaporte é o documento que determina a nossa identidade pessoal e nacional e nos permite cruzar fronteiras. É impossível aventurarmo-nos na viagem da vida sem sabermos quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Caminharmos no dia a dia indocumentados de sentido pode levar-nos ao desnorte e à falta de motivação pelo belo ato de viver. Isto traduz-se facilmente em depressão, tristeza e vazio interior. LínguaQuanto mais línguas uma pessoa aprender, mais pode comunicar e mais lugares pode visitar e conhecer. Se há algo que causa um grande prazer interior é o facto de podermos compreender e sermos compreendidos. Para que a viagem da vida seja mais prazenteira é urgente compreender o mundo em que vivemos e com quem convivemos. Enquanto não fizermos o esforço quotidiano de comunicar de modo sincero e profundo com os outros, de compreendermos a linguagem dos sinais dos tempos em que nos toca escrever a história, a viagem da vida corre o risco de tornar-se um pesadelo. Dinheiroao contrário das viagens turísticas, que nos exigem ter acumulado um montante significativo na conta bancária como garantia para o passeio, a viagem da vida exige-nos acumular o menos possível. Quanto menos riqueza, menos preocupações, e mais leves estaremos para a itinerância da vida. Maior será também a probabilidade de desenvolvermos bens e riquezas interiores, o único produto que dá a verdadeira felicidade ao coração.