a experiência de vida do Papa Francisco no seu trabalho apostólico enquanto sacerdote e bispo, sobretudo com os mais carenciados, leva-o a encorajar todos aqueles que lutam por um bocado de terra, casa ou trabalho
a experiência de vida do Papa Francisco no seu trabalho apostólico enquanto sacerdote e bispo, sobretudo com os mais carenciados, leva-o a encorajar todos aqueles que lutam por um bocado de terra, casa ou trabalho
Realizou-se em Roma entre 27 e 29 de outubro o Encontro Mundial de Movimentos Populares (Fórum Mundial Social), promovido pelo Vaticano e que reuniu mais de 100 leigoslíderes de grupos sociais, 30 bispos com trabalho ligado aos movimentos sociais de seus países e 50 agentes pastorais, além de alguns membros da Cúria Romana. O evento foi organizado e promovido pelo Pontifício Conselho de Justiça e Paz, em colaboração com a Pontifícia academia das Ciências Sociais. O cardeal Peter Turkson, presidente da entidade promotora, destacou que o encontro tinha por objetivo fortalecer a rede de organizações populares, favorecer o conhecimento recíproco e promover a colaboração entre eles e as Igrejas locais, representadas por bispos e agentes pastorais comprometidos na promoção e tutela da dignidade e dos direitos da pessoa.
No documento produzido para o encontro é referido que enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. a desigualdade é a raiz dos males sociais (Evangelii Gaudium, parágrafo 202).
O pensamento do Papa Francisco e a forma como ele vem constantemente acompanhando os excluídos em suas lutas e esforços de organização inspirou-nos e motivou a realizarmos este Encontro Mundial de Movimentos Populares. Desejamos trazer a Deus, à Igreja e ao mundo a voz dos que não têm voz, não porque eles já não gritam, mas sim porque as suas vozes são silenciadas por aqueles que detêm o poder económico. Queremos praticar a cultura do encontro no serviço das pessoas pobres, das populações pobres e desta Igreja pobre para os pobres que, juntamente com o Santo Padre ansiamos.
Neste encontro o arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia academia das Ciências Sociais, explicou: O Papa Francisco compreendeu que, devido ao que ele chamou de ‘globalização da indiferença’, há muitas pessoas que não têm lugar ou reconhecimento na sociedade, nem por parte do Estado, nem por parte da sociedade civil, e que, se essa pessoa não for integrada, dá origem a manifestações para reivindicar os direitos, porque, se não se resolvem as injustiças nem as desigualdades, não se resolvem os problemas.
a abertura do Papa ao receber os representantes de movimentos como os Sem Terra, do Brasil, os Indignados, de Espanha, ou as associações que lutam em África contra a compra de grandes áreas de terreno para fins de culturas intensivas, faz história. Para além de os receber (no dia 28), Franciscoacabou por dar um maior impato às suas reivindicações, sem se preocupar com possíveis riscos de incompreensão. É estranho, mas, quando falo destas coisas, alguns concluem que o Papa é comunista. Não percebem que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho – isso pelo que vós lutais – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada estranho, é a doutrina social da Igreja, disse no discurso de encerramento do encontro.
Francisco criticou novamente o sistema económico que centraliza o deus do dinheiro e não a pessoa humana. Instou ainda os políticos a promoverem novas formas de participação que incluam os movimentos populares e animem as estruturas locais de governo, nacionais e internacionais, com esta torrente de energia moral que surge da incorporação dos excluídos na construção do destino comum.
O Papa prossegue a sua luta contínua pelos desfavorecidos, estejam eles onde estiverem, pois não havendo justiça social para estes, a sociedade e quem a dirige não cumprem a sua função primeira. Este encontro em Roma com os representantes dos movimentos dos mais pobres é uma forma de alertar os responsáveis, mas também de promover genuinamente a via do amor, que é o cerne do evangelho.