Jesus tocava as pessoas para que sentissem precisamente este amor materno de Deus, um amor que vai para além de regras e tradições humanas, as quais muitas vezes são contraditórias na sua natureza porque não promovem a dignidade do ser humano
Jesus tocava as pessoas para que sentissem precisamente este amor materno de Deus, um amor que vai para além de regras e tradições humanas, as quais muitas vezes são contraditórias na sua natureza porque não promovem a dignidade do ser humanoQuando estava a trabalhar na Coreia do Sul, houve um ano em que virou moda uma campanha de Free Hugs, ou seja, abraços grátis. Num país obcecado com a imagem com o colectivo, onde quem é diferente é automaticamente excluído do grupo, a campanha foi inicialmente recebida com estranheza e uma certa relutância, por ser estrangeira e por envolver contacto físico entre estranhos. Isto porque na Ásia Oriental o contacto físico não é usado como forma de saudação, mas sim a tradicional vénia solene. E aos poucos a moda foi ganhando adesão, até que desapareceu. a missão de Jesus foi marcada por atos e palavras que chocaram muitos, espantaram muitos mais e converteram alguns. Entre os atos que mais escândalo e oposição causaram estão os que implicam o tocar alguém que, segundo a lei judaica, era considerado amaldiçoado por Deus por ter uma doença, por seguir um estilo de vida contrário aos milhares de normas da Lei judaica, ou por ser de um grupo étnico, social ou religioso contrário ao dos Judeus.com este tocar, Jesus tornava-se um amaldiçoado porque precisamente ficava contagiado através do toque. Sabemos quão profundo e até necessário é sentirmos o toque de alguém, sobretudo nós que temos como fase inicial da nossa vida a infância, na qual o toque entre mãe e bebé é de fundamental importância para o desenvolvimento pessoal. Jesus tocava as pessoas para que sentissem precisamente este amor materno de Deus, um amor que vai para além de regras e tradições humanas, as quais muitas vezes são contraditórias na sua natureza porque não promovem a dignidade do ser humano, porque o condenam à infelicidade causada pela discriminação e intolerância. Jesus também tocava as pessoas (ou deixava-se tocar por elas) para lhes fazer ver que tinham valor e eram amadas por Deus, pelo autor da vida e do amor. E para amar é necessário também o toque. Porém, há outras formas de tocar, de abraçar o outro. Os missionários estão habituados a estas formas, que se chamam entrar numa cultura diferente, aprendendo a língua, tradições e costumes de um povo e partilhando, ao mesmo tempo, o toque especial de Cristo através da partilha da mensagem do Evangelho. O nosso mundo está cada vez mais necessitado deste toque, desta proximidade e ternura divinas. Este verdadeiro encontro de culturas tem de ser feito na base da reciprocidade e humildade, dando assim espaço ao Evangelho para que este penetre lentamente no coração da cultura e das pessoas que o passam a conhecer. No caso das que já o conhecem mas se vão esquecendo, o missionário é chamado a recriar as formas de anúncio, porque as formas de viver em sociedade e os valores vão mudando conforme mudam os tempos. Há outras formas de tocar que são comuns a todos, formas que são naturais a todos nós, independentemente da nossa raça, cultura, religião ou outras formas de estar na vida. a mais comum delas é a amizade. De facto, o mesmo Jesus usou esta forma de modo muito concreto com todos, sobretudo com quem era em teoria diferente dele; recordemos Nicodemos, Zaqueu, Maria Madalena, o centurião romano e muitos outros que certamente ficaram tocados por este amor grande. Também hoje a amizade permanece como um dos elementos fundamentais na procura e construção da felicidade. Por isso, o cristão em geral e o missionário em particular é chamado a ser amigo de todos, tal como Jesus nos ama e nos trata como amigos.como batizados e como cristãos, somos convidados a tocar o mais profundo da vida e do coração das pessoas, através de gestos de proximidade, de atenção, de dedicação, de sacrifício próprio em favor de quem sente falta deste toque de Deus. O missionário é aquele que se coloca ao serviço de Deus e da humanidade de uma forma mais concreta, livre e disponível. Muitos são os que ainda não conhecem este nosso Deus amor, nem sentiram o seu toque maternal e misericordioso, toque que renova e recria a humanidade e divindade que existe dentro de cada ser humano. Infelizmente, são poucos os que se entregam a esta causa. Continuemos, por isso, a pedir ao dono da messe que envie mais operários dispostos a tocar o coração do mundo com amor e os free hugs de Deus.