Habituados a viver da floresta, os cerca de 3.000 pigmeus da etnia mbuti que habitam em três acampamentos na paróquia de Bayenga, na região nordeste da República Democrática do Congo (RDC), nunca se adaptaram à vida mais ocidentalizada a que foram forçados na década de 1980, na sequência da política de colonização do então Presidente Mobuto Sese Seko.

O governante incentivou-os a deixar a floresta, mas deixou-os sem apoio e eles acabaram desenraizados do ambiente que melhor conheciam e no qual se sabiam mover, deixando de ter destreza para caçar e de ter meios alternativos para garantir a sobrevivência. Hoje, a maioria dedica-se à colheita de fruta, caça e mel, na parte limitada da floresta à qual ainda tem acesso, e a trabalhos pontuais nas plantações de proprietários da etnia bantu, apesar do conflito étnico que ainda persiste entre as duas etnias.

Os bantus, que veem a floresta como uma área para limpar e cultivar, continuam a encarar os pigmeus como seres inferiores, que podem ser explorados ou viver isolados, enquanto os pigmeus, para quem a floresta é sinónimo de lar, refúgio e reserva de alimentos, consideram os bantus como pessoas violentas que roubam a sua floresta. No entanto, continuam a desenvolver uma certa dependência deles, e para sobreviver, acabam por aceitar trabalhos humildes, cansativos e mal pagos, propostos pelos bantus. Acresce a tudo isto a exploração desenfreada e sem controlo dos recursos minerais na região.

Para tentar melhorar as relações entre as duas etnias, a diocese de Wamba criou escolas mistas, frequentadas por crianças pigmeus e bantu. E os padres Flavio Pante e Jeremiah Mutua, missionários da Consolata, decidiram avançar com um projeto, orçado em 16 mil euros, para financiar pelo menos 260 alunos pigmeus, que vivem com mais dificuldades. Além de assegurarem a inscrição anual a estas crianças, pretendem também dar-lhe o uniforme e o material escolar. O orçamento prevê ainda o pagamento do salário de um animador responsável pela integração em seis escolas e o fornecimento de feijão, mandioca, soja e ferramentas agrícolas para a horta escolar, onde os menores podem aprender os conceitos básicos da agricultura.