“Os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga”, escreveu o Papa Francisco, na sua mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres.
Pensar a pobreza é como rezar cada dimensão do ser humano. É ter um olhar holístico sobre a humanidade. Não devemos (nem podemos) pensar a pobreza cingindo-nos apenas à condição financeira de alguém. A pobreza é muito mais do que isso.
A pobreza é a falta de alguma coisa. A falta de motivação, a falta de inspiração, a falta de valores, a falta de fé. O próprio dicionário, ao definir a palavra “pobreza”, remete-nos para um significado deveras abrangente: “falta do necessário à vida; escassez, indigência, penúria”.
São inúmeras as reflexões a que vamos tendo acesso e que nos remetem para a pobreza material. E não deixa de ser urgente a reflexão e a ação para combater esse tipo de pobreza. Pessoalmente, acredito que é também urgente combater todos os outros tipos de pobreza (que, inaptamente, acabam por nos levar à escassez de bens materiais e de condições de vida): a solidão, o abandono, a perda do rumo de vida, o afastamento de Deus e, consequentemente, do irmão que sofre. Não consigo (nem posso) abster-me de olhar a nossa sociedade atual e ver o quão pobres nos estamos a tornar.
Quando não respeitamos os idosos e os abandonamos (com todas as justificações que podemos dar a nós mesmos e aos outros) nos lares e hospitais; quando vemos o nosso vizinho num sofrimento profundo e decidimos fechar os olhos e seguir a nossa vida como se nada tivesse a ver connosco; quando não imbuímos as nossas crianças de valores como respeito, solidariedade, entrega e os inundamos de “reallity shows” sem sentido; quando nos tornamos tão competitivos que não conseguimos olhar os nossos colegas de trabalho além de tarefas por cumprir ou objetivos por atingir; quando descuramos o tempo com as nossas famílias para perder tempo em eventos fúteis em valores humanos.
Acredito que tudo tem um peso e uma medida certa para ser vivido. Acredito mesmo que a nossa vida é feita de um saudável equilíbrio, é ver para além de todas as futilidades que o mundo nos oferece, é aproximarmo-nos do essencial. Combater a pobreza é, a meu ver, abrir o coração àquilo que Deus quer de cada um de nós.