O excesso de dependência do petróleo criou “um crescimento volátil e desigual” em Angola, mas a produção de café “pode ajudar o país a mudar de rumo”, acreditam os especialistas da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), um órgão da ONU que promove a integração de países em desenvolvimento na economia mundial.
Em 2017, Angola produziu 8 mil toneladas de grão de café, “uma pequena parte das 230 mil toneladas que produzia no início dos anos 70”. Em 2018, o café foi identificado como uma prioridade durante a primeira fase da ‘Revisão nacional de exportações’, dinamizada pela Unctad e com financiamento da União Europeia.
Segundo Pamela Coke-Hamilton, diretora da divisão de comércio internacional da Unctad, o setor “representa uma enorme oportunidade devido às condições ecológicas adequadas e à alta qualidade dos grãos”. No entanto, em primeiro lugar é necessário reabilitar o setor. Entre 2016 e 2017, menos de 50 mil hetares eram dedicados a este cultivo. Na década de 70, eram 500 mil hetares. Atualmente, quase todos os 25 mil produtores de café angolanos trabalham em pequenas fazendas familiares.
Os especialistas do Unctad consideram que a indústria pode ser relevante para as comunidades mais rurais e afastadas da capital angolana, e além do aumento da produção, também deve ser estudada uma forma de acrescentar valor ao produto. João Ferreira, presidente da ‘Associação de produtores de café, cacau e palma’ do país, lembra que “não se deve produzir mais café apenas por produzir, é importante ter em mente o valor que se pode acrescentar”, algo que pode ser conseguido embalando e comercializando o produto, em vez de apenas o produzir.
Com o objetivo de apoiar este setor no país, os especialistas da Unctad encontram-se a trabalhar com agricultores, governo e outros organismos para avaliar a forma como o país se pode posicionar na cadeia de valor global. Além do café, os peritos do órgão da Assembleia Geral das Nações Unidas estão também a trabalhar para desenvolver o potencial de exportação dos setores de frutas tropicais, mel e madeira do país.