“Hoje estamos a iniciar a peregrinação mas difícil do santuário, mas porventura, também a mais interpeladora. O vazio que o olhar alcança, podemos dizer que nunca esteve tão preenchido. Convida-nos a fazer uma peregrinação em estado puro, uma peregrinação interior, de amadurecimento da fé e de amor ao próximo”. Com estas palavras, proferidas em tom emocionado, o bispo de Leiria-Fátima lançou esta terça-feira, 12 de maio, a peregrinação internacional aniversária no Santuário de Fátima, que pela primeira vez na história do templo, está a decorrer sem a presença física de peregrinos.
A cidade de Fátima continua praticamente vazia, o mesmo acontecendo com o recinto de oração, que foi vedado com cancelas ao final da manhã. Para António Marto, este é um momento de “tristeza e de dor”, mas também uma oportunidade para a reflexão interior, pois “a fé não se mede pelas multidões”.
“A pandemia exige uma terapia não só de medicina, mas também da cura espiritual. Vivemos dias difíceis e não serão menos difíceis os dias que nos esperam. Mas percebemos que todos somos interdependentes, e isso tem que traduzir-se na responsabilidade, solidariedade e fraternidade”, sublinhou o cardeal.
As consequências económicas da atual crise sanitária não deixam imunes o santuário, “que vive das ofertas”, mas António Marto assegura que o templo mariano “tem alguma sustentabilidade para fazer face” aos seus encargos, como o pagamento de salários, e que não vai deixar de continuar a ser solidário com os mais necessitados, desde instituições a famílias.
Confrontado com as críticas de alguns elementos da ala mais conservadora da Igreja em relação à decisão de celebrar o 12 e 13 de maio à porta fechada, o bispo de Leiria-Fátima disse não ser comparável uma manifestação sindical (numa alusão ao 1º de maio), em que os participantes podem ser escolhidos, e uma celebração com a dimensão de uma peregrinação não é feita por convite.
“De acordo com as informações que tínhamos das autoridades, o risco de contágio seria muito grande. [Fazer a peregrinação mais alargada] seria porventura um caos e a responsabilidade seria da Igreja. E eu não queria ficar na história como responsável por um agravamento da pandemia em Portugal”, concluiu António Marto.