Sem a habitual multidão de peregrinos que costuma preencher o Santuário de Fátima, sinal dos tempos marcados pela pandemia mundial, o bispo de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, transmitiu uma mensagem de esperança aos cristãos, convidando-os a encararem este período com “um olhar renovador”. “A pandemia é um chamamento à conversão espiritual mais em profundidade. Um chamamento aos fiéis cristãos, mas também a todos os homens, que permanecem criaturas de Deus. O vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solideriedade”, afirmou o purpurado na homilia de encerramento da peregrinação internacional aniversária, a primeira na história sem a presença física de peregrinos.
“Pela primeira vez na história, desde 1917, neste grande dia 13 de maio, o teu povo amado, Senhora, vindo dos mais diversos ângulos do mundo não pode estar aqui, em multidão, impedido pelos riscos de saúde pública. De repente, algo que nem sequer podíamos imaginar confina-nos nas nossas casas e priva-nos dos momentos mais desejados e afectuosos da vida, como este que vivemos cada ano junto de ti”, sublinhou António Marto.
Segundo o cardeal, “é possível que muitos pensem que esta peregrinação é triste por se realizar com recinto fechado e porque lhe faltam as grandes multidões e o colorido dos anos anteriores”. “Mas antes de nós decidirmos vir ao santuário, já ela [a Nossa Senhora] foi ao nosso coração, às nossas casas e nos atraiu”, disse António Marto, recordando que a fé ajuda “a ler e compreender os sinais dos tempos na hora presente, com um olhar renovador e esperançado”.
“Ainda há pouco tempo estávamos a viver com uma confiança imensa no poder científico- técnico, no poder económico-financeiro, pensando que estaríamos porventura imunes a qualquer epidemia ou, se ela viesse, logo se encontraria uma solução rápida. Mas, inesperadamente, um vírus imprevisível, invisível, silencioso, capaz de contagiar tudo e todos, põe o mundo inteiro a vacilar. […] É uma situação dramática e trágica, sem precedentes, que nos convida a reflectir sobre a vida e, em primeiro lugar, a ir ao essencial, que muitas vezes esquecemos quando a vida corre bem”, acrescentou o cardeal.
Na sua homilia, o bispo de Leiria-Fátima, alertou ainda para as consequências económicas, sociais e laborais, provocadas pela pandemia: “Já está a gerar uma pandemia mais dolorosa, a da extensão da pobreza, da fome e da exclusão social, agravada pela cultura da indiferença. Como cristãos, não podemos ficar indiferentes. É uma situação que já bate à porta das Cáritas diocesanas e de várias paróquias e soa a sinal de grito de alarme”.
A finalizar, António Marto deixou uma palavra de confiança no rápido regresso à normalidade e dos peregrinos a um local que se internacionalizou pela sua mensagem de paz e fraternidade. “Voltaremos: é a nossa confiança e o nosso compromisso hoje. Voltaremos juntos aqui, em ação de graças para te cantar: «Aqui vimos, mãe querida, consagrar-te o nosso amor!”, concluiu o purpurado.