A tribo yanomami, uma das maiores da América do Sul que permanece relativamente isolada do mundo exterior no Amazónia brasileira, está novamente ameaçada pela mineração ilegal, que tem vindo a crescer nos últimos anos. Além da contaminação das águas, os garimpeiros podem ser portadores de doenças que podem ser fatais para os indígenas.
Segundo uma pesquisa efetuada pela agência noticiosa Reuters, com base em imagens satélite, a atividade mineira na área protegida onde vivem os yanomami multiplicou-se por 20 nos últimos cinco anos, principalmente nas margens dos rios Uraricoera e Mucajai, onde as zonas de exploração cobrem uma área de oito quilómetros quadrados, o equivalente a mais de 1.000 campos de futebol.
Os líderes indígenas e os funcionários locais estimam que existam neste momento mais de 20 mil mineiros ilegais em território yanomami, e asseguram que o número tem vindo a aumentar desde a eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro, que prometeu desenvolver a Amazónia economicamente e aproveitar as suas riquezas minerais.
Embora a mineração praticada seja de pequena escala, é devastadora para o meio ambiente. Os garimpeiros destroem árvores e habitats naturais e o mercúrio usado para separar o ouro da gravilha vai para os rios, envenenando a água e entrando na cadeia alimentar local através dos peixes.
Um estudo publicado há dois anos por especialistas ambientais descobriu que em algumas aldeias yanomami 92 por cento dos moradores sofriam de envenenamento por mercúrio, um químico que pode danificar os órgãos e causar problemas de desenvolvimento às crianças.
A transmissão de doenças por parte dos garimpeiros é outra das preocupações, sobretudo agora com a pandemia de Covid-19, que já tinha provocado pelo menos cinco mortes entre a tribo. “A principal forma de transmissão deste vírus nas nossas comunidades são os mineiros ilegais. Eles chegam de helicóptero, de avião e de barco e não temos forma de saber se estão infetados com coronavírus”, alertou o vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, Dario Yawarioma.
O vírus é particularmente perigoso para os indígenas como os yanomami, que vivem em grandes vivendas comunitárias, com até 300 pessoas debaixo do mesmo teto. Eles partilham tudo, desde alimentos a utensílios, e o seu estilo de vida coletivo faz com que o distanciamento social seja praticamente impossível.