Depois da morte de George Floyd, nos Estados Unidos da América (EUA), os debates e as manifestações populares contra a violência policial espalhou-se por todo o mundo. Vários investigadores aprofundaram o tema, sobretudo em África, e concluíram que o passado colonialista, a pobreza e as questões étnicas influenciam a atuação das autoridades policiais.
“As maiores vítimas da violência policial, nos países africanos, são os pobres e também pessoas pertencentes a minorias étnicas, que em teoria têm os mesmos direitos da maioria, mas que na prática são discriminadas. No Quénia, por exemplo, os habitantes das faixas costeiras, ou os somalis quenianos, são frequentemente mal tratados pela polícia. Existe, de facto, uma espécie de hierarquia, no que diz respeito aos grupos étnicos”, explicou Annette Weber, investigadora na fundação alemã de ciência e política (Stiftung Wissenschaft und Politik).
Citado pela agência DW, Gareth Newham, especialista do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em questões de violência policial, na África do Sul, aponta praticamente as mesmas conclusões: “Penso que a violência não é motivada por questões raciais. Tem mais a ver com a classe social. A polícia usa a violência simplesmente contra os pobres, independentemente da sua cor. Normalmente, não usa a violência contra um condutor de um carro caro, ou contra um advogado, que tem meios para contra-atacar, recorrendo à justiça”.
Para estes investigadores, a violência policial em África tem causas estruturais e culturais, que têm a ver com a história colonial. “Tortura e violência foram ancoradas no sistema colonial do apartheid. E essa mentalidade passou para a democracia. Temos uma liderança política que não reconhece que há uma crise no exercício de tarefas policiais. As coisas só podem melhorar se a atitude do governo mudar”, afirma Gareth Newham.