O recrudescimento dos ataques armados no norte de Moçambique está a obrigar as populações a procurarem refúgio em regiões que ainda vivem em paz. Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, tem sido o porto seguro para muitas famílias, que chegam desprovidas de meios de sobrevivência. Ali encontram algum alívio graças ao apoio de famílias de boa vontade e das organizações não governamentais. Em entrevista à DW África, o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, faz um balanço sobre o acolhimento dos deslocados.
Como está a ser o acolhimento dos deslocados internos na cidade de Pemba?
Neste momento já se fala em mais de 250 mil deslocados internos. Toda a província de Cabo Delgado – nos distritos onde não há conflitos armados, seja da região sul ou centro e também a região aqui de Pemba e região vizinha – está cheia de deslocados. Desde o início do ano, dos ataques às grandes vilas, a cidade de Pemba tem recebido muitos deslocados. Quase todas as famílias de Pemba, mais de metade das famílias de Pemba, estão a acolher uma, duas ou três famílias [deslocadas]. As famílias de Pemba têm demonstrado uma grande abertura de coração abrindo as suas casas, a sua vida privada, para receber pessoas que precisam de apoio nesse momento.
Já se nota alguma alteração no tecido social de Pemba com a chegada dos deslocados?
Com certeza, é fácil notar isso. Nos bairros vemos muita gente, então se percebe muito bem. Só não se percebe mais por causa do estado de emergência: muitas instituições não estão a funcionar, as igrejas não estão a funcionar, nem as escolas. Mas, se houver um regresso à escola, isso vai-se perceber muito claramente nas escolas, porque há um numero de crianças e jovens que estão cá na cidade e que devem ser acolhidos pelas escolas, não se vai poder fechar as escolas para ninguém. Então, isso vai-se demonstrar muito claramente no regresso às aulas. E é claro, o número de pessoas que anda pela cidade que não tem ocupação, que não tem emprego, isso já se nota tranquilamente, tanto nos bairros como na cidade.
As autoridades lançaram recentemente um projeto para promover a paz em Cabo Delgado, com o apoio do Japão e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Visa promover, entre outras coisas, mecanismos de prevenção de conflitos e o fortalecimento das instituições. O que espera desse projeto se considerarmos o intensificar da insurgência aí?
Qualquer projeto que vise a promoção da paz, de mecanismos que visem a prevenção de conflitos e fortalecimentos das instituições, é muito bem-vindo. Tomara que esse projeto do Japão e do PNUD dê muito certo e ajude muitas pessoas. Nós precisamos ainda de outros projetos que visem cuidar do número de pessoas que é absurdamente grande e que precisam de ser ajudadas nesse momento. O mais importante é a comida. Mas não é só comida, há muitos tipos de ajuda que essas pessoas precisam. Então, esses projetos, quando são bem desenhados, quando são colocados a sério na prática, são bem-vindos e ajudam. O nosso povo tem precisado muito dessa ajuda e, se nós estamos juntos do Governo para ajudar essa gente, isso é muito importante.
Texto: Nádia Issufo/DW África/Lusa