A compra de carros elétricos está a aumentar significativamente em todo o mundo, prevendo-se que, até 2030, sejam vendidas mais de 23 milhões de unidades. Para a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), este crescimento acarreta preocupações ambientes e sociais que devem ser tratadas com urgência, tendo em conta os efeitos no meio ambiente causados pela exploração de minerais usados na produção das baterias usadas por estes veículos.
“A maioria dos consumidores só conhece os aspetos positivos dos veículos elétricos porque a parte negativa do processo de produção não é visível”, alerta em comunicado a diretora de comércio internacional da UNCTAD, Pamela Coke-Hamilton, sublinhando que esta falta de informação acontece porque a maioria dos consumidores vive em países industrializados, mas a maior parte das matérias-primas está concentrada em alguns países em desenvolvimento.
Segundo a responsável, mais da metade dos recursos de lítio do mundo, por exemplo, encontra-se nas salinas das regiões andinas da Argentina, da Bolívia e do Chile. E a mineração desse metal já está causando dificuldades aos agricultores indígenas de quinoa e pastores de lhamas, que precisam competir com os mineradores por água numa das regiões mais secas do mundo – algumas estimativas mostram que são necessários quase dois milhões de litros de água para produzir uma tonelada de lítio.
Já em relação ao cobalto, quase 50 por cento das reservas mundiais estão na República Democrática do Congo e o país é responsável por mais de dois terços da produção global do mineral, sendo que cerca de 20 por cento vem de minas artesanais, onde 40 mil crianças trabalham em condições extremamente perigosas.
A poeira que resulta da escavação pode conter metais tóxicos, incluindo urânio, que causam problemas de saúde, como doenças respiratórias e defeitos congénitos. Por outro lado, as minas podem conter minerais de enxofre, que geram ácido sulfúrico quando expostos ao ar e à água. Esse processo pode destruir rios e outros cursos de água por centenas de anos.
Uma vez que os carros elétricos causam menos emissões de gases de efeito estufa do que os veículos normais, a agência da ONU recomenda mais investimento em técnicas sustentáveis de mineração, em tecnologias de reciclagem das matérias-primas usadas e em formas de reduzir a necessidade de mineração, para reduzir os impactos ambientais.