A nova regulamentação é apresentada como medida para conter a pandemia, mas está a despertar o receio de uma nova fase de escassez de bens no estado de Miranda, que engloba parte da região da capital da Venezuela, a única do país onde foram aplicadas estas exigências: as compras de alimentos passam a ser organizadas através do documento de identidade.
Para Octavio Moreno, morador no bairro de Palo Verde, a maior favela da Venezuela, a medida faz recordar a crise de alimentos e medicamentos que o país sofreu entre 2014 e 2017. Nessa altura, as compras também foram organizadas de acordo com os documentos de identificação e os venezuelanos passavam o tempo em longas filas, várias vezes por semana, para comprar alguns quilos de farinha de milho – a base de muitos pratos típicos na Venezuela -, arroz e o que fosse possível de proteína animal.
“Isso vai trazer mais filas e fazer com que a pandemia se espalhe mais rápido, porque as pessoas vão ficar coladas umas nas outras (nas filas dos mercados)”, desabafou o reformado às agências internacionais, manifestando também o receio de um novo período de escassez, porque, além da falta de alimentos, há o “fator pandemia”.
O governo regional, por sua vez, justifica a medida com o aumento dos casos de Covid-19 nas últimas semanas e a necessidade de evitar a aglomeração em supermercados e lojas. A regulamentação será mantida por um período de 30 dias que pode ser prolongado, e o não cumprimento “resultará nas multas e penalidades estabelecidas por lei”, que não foram especificadas.