É necessário que os direitos dos mais desfavorecidos sejam reconhecidos, nomeadamente no atual panorama maior vulnerabilidade, devido à pandemia, demonstrou José Traquina, bispo na diocese de Santarém, na noite de 12 de agosto, no Santuário de Fátima. “Mais do que o apelo a uma generosidade pontual ou continuada, trata-se de reconhecer a nível mundial o direito dos pobres. Deus quer que seja reconhecido o direito dos pobres no mundo inteiro”, frisou o prelado que preside às cerimónias.
O também presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana lembrou na noite de quarta-feira os migrantes que sempre viveram “dificuldades acrescidas”, mas também os cidadãos nacionais, “que não puderam regressar ou sair de Portugal, os que foram atingidos pelo vírus, os que ficaram desempregados e os que experimentam a fragilidade e a acentuada insegurança por viverem num país estrangeiro”.
No arranque da ‘Peregrinação internacional aniversária de agosto’, José Traquina lembrou ainda os mais de 250 mil deslocados na sequência dos conflitos armados em Cabo Delgado, Moçambique. “É urgente que seja encontrada uma solução para travar os combates armados que atingem pessoas inocentes”, defendeu o prelado, frisando que em “África ou em qualquer parte do mundo, é necessário considerar a pessoa humana como o centro, o valor e o bem maior a acolher, defender e promover, para que haja humanização e desenvolvimento social”. O presidente das celebrações de agosto pediu aos cristãos que manifestem “capacidade de acolhimento”, e que não cultivem emoções que não se adequem à “matriz cristã de fraternidade universal”.
Tendo em conta o facto de estar a ser escutado no recinto de oração de Fátima por fiéis que integram a ‘48ª Peregrinação nacional dos migrantes e refugiados’, o prelado convidou a um maior envolvimento dos responsáveis diocesanos no apoio aos migrantes. “A ‘Obra católica portuguesa de migrações’ espera mais envolvimento dos serviços diocesanos com os migrantes”, disse o bispo de Santarém, acrescentando que “é desejável que os ‘Secretariados diocesanos para as migrações’ desenvolvam iniciativas que tenham a ver com os migrantes portugueses no estrangeiro e também com os migrantes estrangeiros residentes em Portugal que, segundo um recente ‘Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras’, ultrapassa as 590 mil pessoas”. “Esta é uma realidade para a qual a Pastoral da Igreja tem de estar atenta para acompanhamento e apoio”, destacou o responsável.
José Traquina sublinhou que os estrangeiros são “uma necessidade e um bem” para o país e não que devem ser “explorados ou maltratados”. O presidente das cerimónias de agosto frisou que os estrangeiros devem ser “acolhidos e protegidos com a mesma respeitabilidade” que se deseja para os portugueses que “vivem em qualquer outro país”. “Devem ser informados acerca das nossas regras e hábitos de convivência, mas também ter as condições para expressarem a sua cultura”, sublinhou.
José Traquina desejou que esta jornada na Cova da Iria possa ser “um momento de transfiguração”, “retemperadora da força e da luz interior da Fé”. “A missão dos pastorinhos mostra que viver em Deus implica interesse e zelo pela humanidade. Concretizando o Evangelho, esta é a missão que nos é confiada, sabendo que o futuro do mundo depende da conversão dos homens, na resposta ao problema dos pobres e à defesa do planeta Terra”, disse o prelado, citado pelos serviços de comunicação do Santuário de Fátima. A noite ficou ainda marcada pela habitual procissão das velas, que contemplou um momento de oração junto ao monumento do Muro de Berlim, cuja construção iniciou no dia 13 de agosto de 1961. O momento de oração foi uma ocasião para rezar pela paz e pelo fim dos conflitos no mundo.