As estatísticas mostram que até meados do século, a composição da população dos Estados Unidos da América (EUA) completará um ciclo de mudança iniciado há 100 anos: se em 1950 a população branca, não-hispânica, constituía 90 por cento do total dos americanos, ela poderá descer para 44 por cento em 2060. As mudanças em curso tornam o discurso político que fecha os olhos a estas divisões sociais e defende a supremacia branca não só ridículo como perigoso.
A partir da análise das estatísticas sobre segurança, inúmeros media têm revelado estatísticas que indicam que, nos EUA, os negros correm um grande risco de morrer de uma bala disparada pela polícia, ou de vir a fazer parte da população prisional, composta por um terço de afro-americanos, muito embora eles constituam apenas 13 por cento da população.
Os dados dão força ao slogan “As vidas dos negros contam”, gritado um pouco por todo o mundo, depois da morte de George Floyd, asfixiado por um polícia, após ser detido por suspeição de ter comprado cigarros com uma nota falsa de 20 dólares. Mas as estatísticas, apontadas como uma denúncia contra a atuação da polícia norte-americana, mostram que o problema vai muito para além de uma deriva racista das forças de segurança.
Com efeito, Floyd integrava o grupo de pessoas para quem as estatísticas não são nada favoráveis noutros domínios do dia-a-dia nos Estados Unidos. Dos 11,8 por cento da população que no país vivia com menos de 12 dólares por dia, em 2018, 20,8 por cento eram afro-americanos. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego era, entre os negros, quase o dobro da registada entre os brancos e os rendimentos por agregado familiar são significativamente mais baixos, se comparados com a população branca, hispânica ou asiática.
Intolerância à discriminação racial
A situação de pobreza reflete-se na falta de acesso aos serviços de saúde e é coincidente com o facto de os negros terem uma menor esperança de vida. Os impactos do coronavírus na comunidade ainda estão por determinar com exatidão, mas dados referentes ao estado do Luisiana – citados pelos jornal francês Le Figaro – revelavam que 70 por cento dos mortos eram negros, muito embora eles representem apenas 32 por cento da população. No estado do Illinois, os negros são 13 por cento, mas representavam 42 por cento dos falecidos com a Covid-19.
Os números dão-nos uma razão mais profunda para percebermos o que está em questão quando dizemos que “As vidas dos negros contam”. Casos como os de George Floyd já foram motivo para conflitos no passado e continuarão a ser, de forma crescentemente recorrente, um rastilho de conflito social nos EUA. O discurso político que insista nestas divisões raciais não pretende, por certo, perceber as transformações que as próximas décadas trazem: um país multirracial, onde as discriminações étnicas tenderão a ser cada vez menos toleradas.
Texto: Carlos Camponez