Foi missionário em Moçambique, responsável mundial pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) e está à frente dos destinos da diocese de Setúbal desde agosto de 2015, ano em que foi escolhido pelo Papa Francisco para ser bispo, mas sem perder o seu carisma missionário. É isso que tem feito, ao acompanhar os problemas sociais da sua diocese e condenar “o racismo, a injustiça e a exclusão”, e é isso que promete continuar a fazer, agora que foi eleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Escolhido para suceder ao cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, o bispo de Setúbal, 66 anos, deixou claras as linhas orientadoras para o seu mandato, logo na primeira conferência de imprensa, após a Assembleia Plenária que o elegeu: “Queremos uma Igreja que saiba discernir sobre estes tempos. Uma Igreja presente, porque a missão da Igreja é estar presente. E queremos uma sociedade mais justa e em paz”.
Preocupado com “as bolsas de pobreza” que se adivinham em consequência da pandemia, com as mortes de idosos com Covid-19 nos lares – “que poderiam ter sido evitadas” – e com a situação dos profissionais de saúde, José Ornelas considera que é em momentos como este que a Igreja deve estar mais próxima, solidária, com gestos concretos de ajuda e de estímulo, imbuídos de genuíno espírito de missão.
“A missão é que nos forma. A Igreja foi crescendo, foi-se diversificando e foi evoluindo precisamente porque foi perguntando o que é preciso para levar a mensagem do Evangelho e libertar as pessoas onde quer que elas se encontram. E por isso foi encontrando soluções novas, para problemas novos”, realça o novo presidente da CEP.
Desafiado a responder aos que acusam a Igreja em Portugal de pautar as suas intervenções pelo discurso “politicamente correto”, José Ornelas foi perentório: “Nós não substituímos o Estado, mas estamos em ligação com [ele]. Seja com quem for que o povo eleja, nós trabalhamos. E se procurarmos juntos os meios para servir bem aqueles a quem nos dirigimos, se pusermos os interesses do povo em primeiro lugar, vamos sempre encontrar modos de convergência e modos de atuação. Se estivermos à procura de saber quem é que manda mais e quem é que sai melhor na fotografia, entornamos o caldo todo e o povo que devia ser servido não o é”.