Cerca de 300 mil iemenitas perderam as suas casas, colheitas, rebanhos e bens nos últimos três meses na sequência de chuvas torrenciais e inundações. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), as inundações agravaram um cenário já crítico para o povo do Iémen, que sofre com aquela que é considerada a pior crise humanitária do mundo.
Entre as vítimas das cheias estão deslocados pelo conflito civil, conforme explicou Andrej Mahecic, porta-voz do Acnur, a partir de Genebra, na Suíça. Em sete localidades do país, as enchentes tiraram a vida a pelo menos 148 pessoas nos últimos dois meses.
O rebentamento da barragem de Al-Roone, em Hababa, provocou o lançamento descontrolado de 250 mil metros cúbicos de água, atingindo milhares de pessoas em regiões onde se encontram deslocados internos. Muitos já viviam na pobreza, em “abrigos sobrelotados e improvisados, que foram arrastados ou sofreram graves danos”, referem os serviços de comunicação das Nações Unidas, adiantando que agora estas estas pessoas são agora “forçadas a abrigarem-se em mesquitas, escolas, com familiares, a viver ao relento ou em prédios abandonados, alguns dos quais estão em risco de desabamento”.
Segundo a ONU, “muitas das vítimas também já lutavam para sobreviver”, devido à falta de trabalho e às dificuldades para pagar uma refeição por dia. De acordo com Andrej Mahecic, “os níveis de desespero estão a aumentar enquanto a pior crise humanitária do mundo vai piorando”.
Neste cenário, o Acnur lembra que estas comunidades se encontram “extremamente vulneráveis à pandemia de Covid-19”. Na região não há possibilidade para a existência de distanciamento físico, e o acesso a água potável é difícil. Simultaneamente, “a infraestrutura de saúde do país está gravemente danificada pelo conflito”, referem as Nações Unidas.
A estação das chuvas ainda não chegou ao fim, pelo que as vítimas podem aumentar. Ao mesmo tempo, a “capacidade de muitas barragens está a chegar ao limite e algumas estão em más condições devido ao abandono nos últimos anos por causa do conflito”. Em Marib, a barragem “já atingiu o limite e existe o risco de destruir o local onde vivem milhares de deslocados internos”, refere a ONU.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados encontra-se no terreno a prestar apoio de emergência às vítimas da catástrofe, e distribuindo cobertores e colchões a milhares de pessoas. Medidas de prevenção da Covid-19 também estão a ser difundidas na região.