Os números são assustadores e apelam à reflexão. Na África subsariana, onde muitos produtores ganham menos de 1,7 euros por dia, são desperdiçados todos os anos cerca de 3,4 biliões de euros em comida, entre a colheita e a venda. Isto quando, a nível mundial, há 690 milhões de pessoas a passar fome e três mil milhões que não têm acesso a uma dieta saudável.
Para António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, este desperdício de alimento “é um insulto ético” que prejudica não só as populações, como destrói os recursos naturais como água, solo, energia e a produtividade dos profissionais do setor, e agrava as alterações climáticas, uma vez que a agricultura gera uma grande parte das emissões de dióxido de carbono.
Numa mensagem alusiva ao Dia Internacional de Consciencialização sobre Perda e Desperdício de Alimentos, que se assinala pela primeira vez esta terça-feira, 29 de setembro, o líder da ONU recorda que 14 por cento dos alimentos se perdem entre a colheita e a venda e que 38 por cento do consumo de energia no sistema global alimentar são dedicados à produção de comida que é desperdiçada ou perdida.
“Com a pandemia de Covid-19, todos precisam repensar as formas de produção, consumo e descarte de alimentos”, alerta por sua vez a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sublinhando que no mundo atual não pode haver espaço para o desperdício e perda de alimentos.
Portugueses melhoram resultados
Em Portugal, um estudo divulgado esta terça-feira pela associação de defesa do consumidor (DECO), revela que os portugueses reduziram substancialmente o desperdício alimentar com a pandemia. Segundo os dados recolhidos, no início do ano, 56 por cento dos inquiridos diziam deitar para o lixo “um pouco dos alimentos” que consumia em casa. No entanto, em abril, a percentagem de consumidores que admitia deitar comida fora desceu para 19 por cento.