Dedicada a defender os direitos da criança na Colômbia há mais de 20 anos, Mayerlín Vergara, a vencedora deste ano do Prémio Nansen, pelo trabalho humanitário com refugiados, viu crianças de cinco anos a consumir cola para enganar a fome, conheceu menores que sofrem abusos diários em casa, testemunhou casos de crianças que pedem comida ao Pai Natal, mas nunca sentiu tanta dor como a experimentada atualmente pelos refugiados e migrantes venezuelanos no norte da Colômbia.
“O que vimos em La Guajira com os meninos e meninas, principalmente com os refugiados e migrantes, é para nos deixar a chorar. Uma situação deplorável. Não só fisicamente falando, não só porque não têm onde dormir, ou onde viver, ou o que comer, mas pela falta de esperança nos seus olhitos, pelos rostos tão apagados, pela tristeza tão profunda”, descreveu a ativista e coordenadora regional do departamento colombiano de La Guajira da Fundação Renascer, uma organização que já assistiu mais de 22 mil crianças e adolescentes vítimas de tráfico humano e de outros tipos de violência sexual e de género.
“Maye”, como lhe chamam carinhosamente as crianças que ajuda, ofereceu-se para abrir e dirigir um centro para menores em Riohacha, na fronteira oriental da Colômbia com a Venezuela, depois de ter testemunhado a terrível situação que enfrentam milhares de migrantes venezuelanos em fuga da crise socioeconómica do seu país. E um dos flagelos que mais a tem marcado é a exploração sexual que sofrem as menores.
“Ouvir as meninas a dizer que não querem viver, que não querem abrir os olhos de manhã porque a vida já não tem sentido, vê-las a tentar suicidar-se, a terem stress pós-traumático e quadros depressivos profundos, é o mais duro que tenho visto em toda a minha trajetória na Fundação Renascer. Nesses momentos, tão duros e difíceis, recordo o que dizia Deus: ‘Senhor, ajuda-me porque eu sozinha não posso’”, desabafou Vergara.
Pelo trabalho que tem vindo a desenvolver, a ativista foi distinguida com o Prémio Nansen, atribuído pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Na reação à entrega do galardão, “Maye” dedicou a distinção às crianças, cuja capacidade de sonhar a inspira a continuar a acreditar que é possível construir uma sociedade livre do tráfico de pessoas com fins de exploração sexual.