A presença feminina e materna de Maria, desde o início da Igreja, foi recordada esta terça-feira, 13 de outubro, pelo bispo de Setúbal, José Ornelas, para apelar a uma mudança de paradigma na organização da Igreja Católica, que assente numa maior valorização do papel da mulher.
“Acentuar o feminino e o materno não é apenas buscar o equilíbrio de poderes ou de de influências na organização funcional da Igreja. Trata-se de mudar de paradigma, de mudar a forma de pensar. A liderança eclesial não está fundada sobre a ideia de poder, mas na vida, no cuidado e no serviço, utilizando todos os dons do Espírito à disposição para a edificação da casa do Senhor”, afirmou o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na homilia da missa de encerramento da peregrinação internacional aniversária de outubro.
Segundo o prelado, “valorizar o papel da mulher contribui decisivamente para a valorização dos ministérios da Igreja, hoje demasiado concentrados nos ministérios ordenados”. “Junto com o ministério dos apóstolos, há que deixar entrar na vida das nossas comunidades os sinais do feminino, da maternidade de Maria”, acrescentou.
Perante uma assembleia de cerca de 4.000 pessoas, longe do máximo de 6.000 permitido pelo plano de contingência imposto pela pandemia, José Ornelas referiu-se também ao perigo dos movimentos populistas, suscetíveis de agravar a injustiça social.
“Vivemos num tempo em que movimento populistas manipulam a nostalgia do passado, o medo real ou imaginário, o perigo do estrangeiro e dos que pensa diferente, a ganância de possuir e dominar, e até usam o nome de Deus, os modelos religiosos, para os seus interesses”, alertou o bispo.
Para conseguirem os seus objetivos, prosseguiu o bispo de Setúbal, “constroem muros, exacerbam nacionalismos egoístas e conflituosos, que impedem que se chegue a consensos mundiais para encontrar soluções para os problemas de todos, como a pobreza, a injustiça, a guerra e a depredação do planeta”.
De acordo com José Ornelas, a pandemia “veio tornar mais visíveis estes problemas” e mostrar a necessidade de encontrar caminhos e soluções para todos. “Estamos todos no mesmo barco, ou nos ajudamos, ou o barco afunda”, destacou o prelado.