Quantos residentes em Portugal deixarão de ser pobres e excluídos pela mão do Orçamento Geral do Estado para 2021? É o valor mais alto de sempre: 100.755 milhões de euros é quanto o Estado diz precisar de gastar, em 2021, ou seja, cerca de 11,5 milhões à hora. O dinheiro parece já estar todo orçamentado e distribuído, mas mexidas no Orçamento Geral do Estado (OGE) ainda se aguardam, para responder a exigências de partidos à esquerda, pois só assim os mesmos o poderão aprovar na Assembleia da República.
Serão sempre insuficientes os dinheiros na gestão e alavancagem dos mais variados setores. A saúde, a educação, o trabalho, a habitação, o direito à informação e ao crédito são áreas que não podem ser de todo negligenciadas, esquecidas à luz de uma paranoia que aposta em projetos babilónicos, que beneficiam quem tem sempre os olhos à espreita, postos nos cofres vazios ou cheios, e sejam eles do Estado ou de outros.
Portugal não é apenas um país desigual, e lamento que algumas campanhas de organizações sociais se tenham iludido com a ideia de que a pobreza por cá já era. Parece ser moda hoje dizer: “Portugal Desigual”, “Combater a desigualdade em Portugal”.
É pobre em Portugal quem tem um rendimento mensal de 501 euros, e encontra-se a roçar a indigência total quem está abaixo dessa linha. Se em 2018, sem as prestações do Estado, 43,4 por cento da população total estava no limiar da pobreza, imaginemos os números neste momento com o impacto socioeconómico da pandemia na vida de uma classe média atulhada de encargos e esvaziada de rendimentos, e dos que sempre viveram dentro do abismo, abandonados, esquecidos e despidos de direitos.
A desigualdade na distribuição de rendimentos e a outros níveis é certamente escandalosa, mas fica mesmo assim bem aquém da pobreza e exclusão social. Portugal é sobretudo um país pobre, embrutecido por histéricos ‘talkshows’, por campos de futebol, pelo refúgio do vinho, e por religiosidades escravizantes e alienantes. Quem nos dera que fosse apenas um país desigual, sem pobreza e exclusão. Mas não o é de todo.
Por isso, nas vésperas de mais uma jornada Internacional pela Erradicação da Pobreza, quando um OGE se comenta e debate e dinheiros europeus a fundo perdido estão para chegar, a minha imediata pergunta é simplesmente esta: Quantos residentes em Portugal vão deixar de ser pobres em 2021? Quantos vão deixar de ser subsídio-dependentes? Qual será o nosso orgulho em 2030, se as pessoas contam cada vez menos e são cada vez mais meio para fins opostos ao bem comum, e ao comum uso dos bens?