É com base num trabalho de investigação e de experiência pessoal, iniciado há muitos anos, que a Impossible – Passionate Happenings, criada em 2015, tem construído o que pensa e o que defende, como caminho, na abordagem de temas que vão da pobreza, justiça, economia ao cuidado da Terra, enquanto primeiro grande dever-direito de todos os seres.
Entre Foucault, Žižek, Sloterdijk, Badiou, Meillassoux, Latour e outros, Giorgio Agamben, provavelmente o filósofo italiano vivo mais lido no mundo, tem sido ultimamente uma importante chave de leitura sobre como interpretar e responder ao momento presente a partir de experiências únicas, vividas no passado, e do que, numa alusão precisamente ao estilo de vida de Francisco de Assis (Altissima Povertà) e à ideia de justiça em Walter Benjamin, chamou de “inapropriável”.
Como ele, também nós temos procurado encontrar ou escrever o “livro perfeito”, que decifrasse o nosso emaranhado existir e o sossegasse de vez, sabendo, de antemão, da sua impossibilidade. Neste sentido, como viver a partir de uma Terra que não deixa que a possuam, e que por isso não pode ser propriedade de ninguém, tem sido, ultimamente, o propósito dos nossos fóruns anuais, centrados na situação de pobreza e exclusão em que vivem milhares de nós e de outros tantos seres.
Não nos surpreendeu a “Economia de Francisco” proposta, em 2019, pelo atual Papa, como tema de encontro mundial, e que só agora, por causa da pandemia, vai estar em discussão online entre 19 e 21 de novembro, a partir da cidade de Assis, como não nos surpreendeu encontrar Giorgio Agamben na bibliografia que serve de preparação ao evento. Há de facto muito em comum.
A propósito deste encontro, Luigino Bruni, coordenador científico de toda esta operação, refere que “A economia de Francisco” já é «o mais vasto movimento de jovens economistas e empreendedores do mundo». À nossa escala, talvez também pudéssemos dizer que a onda de pessoas que simpatizam com as nossas ideias e formas de ser é razoável. Mas são incontáveis os movimentos que nascem e morrem nos dias ou nos anos a seguir. Estudos provam isso mesmo, sendo sempre muitos poucos os que resistem e perduram no tempo.
Depois, fazer parte, estar de acordo, assinar por baixo não é assim tão difícil. O que é verdadeiramente difícil e exigente é a concretização do movimento em realidade. Uma nova Economia, tenha ela o nome que tiver, para se demarcar de outras economias, que não seja real por aqueles que constituem um seu movimento, estará sempre condenada ao fracasso. É que uma coisa é dizer que nada é de ninguém, questionando o direito de propriedade, outra o fazer um verdadeiro comum uso das coisas.
Dos nossos fóruns, do que concluem como caminho necessário ao que depois lá fora, nas nossas vidas acontece, vai uma enorme distância. O medo de perdermos a pouca ou muita segurança é sempre enorme. Mas talvez já seja alguma coisa, e seja dever fazê-lo (the death drive), o encontro que nos leva a um contínuo confronto com a nossa hipocrisia e necessidade de mudar. Para ser verdade, o sonho de uma fraternidade global irá exigir sempre o envolvimento de todas as nações. Porém, o caminho nessa direção nunca será do todo ao particular, mas do particular ao todo, num verdadeiro movimento de contágio. E o mesmo, se quiser ser coerente consigo mesmo e sobreviver ao tempo, terá de acontecer dentro de qualquer movimento.