“Precisamos urgentemente de vacinas e de tratamentos eficazes, mas não somos apenas organismos doentes do coronavírus”, afirmou esta quarta-feira, 11 de novembro, em Fátima, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), num discurso em que apelou a um mundo mais solidário no pós-pandemia e lamentou o recente chumbo da Assembleia da República ao referendo sobre a eutanásia.
“Que não amanheçamos um dia apenas curados, exaustos e vazios da pandemia, e naturalmente sedentos de voltar sôfregos e saudosos ao que já era. Tanto sacrifício, tanta luta e tanta vontade de ajudar e mesmo tantos erros e atitudes irresponsáveis não podem simplesmente ficar escritos nas páginas dum livro que se fecha e arquiva, ou numa página das redes sociais onde a memória recusa fazer um clique. Devem desabrochar num mundo, numa sociedade, numa economia, numa Igreja mais solidários, mais atentos, com mais esperança. Temos de voltar a socializar, temos de voltar às nossas igrejas, mais humanos, mais fraternos, mais crentes e consequentes ao Deus que caminha com a humanidade, sempre atento aos mais frágeis e sempre promotor de renovação e de esperança”, sublinhou José Ornelas, na sessão de abertura da Assembleia Plenária da CEP.
A reflexão sobre o impacto da crise pandémica em Portugal vai ser um dos temas fundamentais do encontro e o presidente da CEP aproveitou para destacar não só o empenhamento da Igreja em evitar a expansão da pandemia, mas sobretudo o esforço do clero e da comunidade cristã no apoio aos mais isolados e vulneráveis.
“Sinal de esperança foi a dedicação dos sacerdotes, diáconos e de tantas e tantos cristãos que têm permitido manter e desenvolver as celebrações e os contatos, estar com os mais isolados e atender os que mais perderam com a pandemia. É motivo particular de esperança que, neste contexto, inúmeros jovens tenham despertado para uma participação ativa na vida das comunidades, através dos serviços em que foram participando, com especial relevo no acolhimento, nas plataformas de redes sociais e na assistência a quem precisa”, realçou o bispo de Setúbal.
No seu discurso, a que muitos bispos assistiram por via digital devido às contingências sanitárias, José Ornelas disse ainda não encontrar lógica no facto de se ter escolhido este momento para se voltar a discutir a legalização da eutanásia, muito menos que se tenha chumbado a possibilidade de realização de um referendo nacional sobre o tema.
“Que se tenha retomado esta iniciativa precisamente neste momento e se tenha negado a discussão pública integrada num pronunciamento da vontade do povo, em assunto tão importante e fraturante, não abona a nossa democracia nem a promoção de uma cidadania que se quer participativa e interventiva”, lamentou o prelado.
José Ornelas condenou também os atentados das últimas semanas na Europa, referindo que “para além do que possam ser as motivações daqueles que os praticam, bem como as densas nuvens de conflitualidade internacional que pairam sobre as relações políticas e económicas entre as nações, sublinham a necessidade de uma renovação e não seja simplesmente o regresso à ‘normalidade de sempre’”.
A Assembleia Plenária termina no próximo sábado, 14 de novembro, com a celebração de uma Eucaristia, a partir das 11h00, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, em memória das vítimas da pandemia.