Grupos terroristas, extremistas, de supremacia branca e até cartéis mexicanos, estão a utilizar as redes sociais para difundir a sua narrativa, aumentar a polarização mundial e a desconfiança nos governos, e assim recrutar mais adeptos para espalhar o terror e o ódio, ganhando terreno para as suas atividades ilegais, revela um estudo do Instituto de Investigação Inter-regional sobre Crime e Justiça das Nações Unidas.
De acordo com os especialistas, estes grupos têm difundido intencionalmente teorias conspirativas sobre a origem da Covid-19, que geralmente atribuem a governos, determinadas etnias ou religiões, supostas redes secretas, companhias ou empresários, que, segundo eles, têm objetivos como a aniquilação da população, o controlo mundial ou o enriquecimento mediante a venda de vacinas e tratamentos.
Para tornar mais convincente a informação, as mensagens são personalizadas frequentemente para coincidir com a audiência e as ideologias. Por exemplo, em grupos de extrema direita dos Estados Unidos da América, circularam teorias que culpam os imigrantes e estrangeiros como responsáveis por propagar o vírus. E há casos de grupos de extrema direita, como o CoronaWaffen, a pedir explicitamente aos seus seguidores que propaguem o vírus tossindo em locais específicos onde se reúnem minorias religiosas ou raciais.
Os dados recolhidos pelo estudo indicam ainda que estes movimentos se têm aproveitado das características inerentes às redes sociais e às aplicações de conversação, que permitem inserir conteúdos de forma anónima, instantânea e sem custos. E uma das táticas mais usadas para atrair seguidores é criar conteúdos simples e muito visuais, com recursos aos chamados “memes” da internet, que normalmente recorrem a frases ou vídeos com humor para facilitar a sua difusão.
Os especialistas alertam ainda para a perigosa convergência entre diferentes teorias conspirativas que continuam a espalhar-se pelo mundo. Estas teorias reúnem histórias diferentes e frequentemente contraditórias, como a identificação do sinal de telemóveis 5G como veículo para transmitir o vírus, a afirmação de que a pandemia terá sido idealizada por Bill Gates para implantar microchips em seres humanos, ou a ideia de que o vírus é um logro e não existe.
Esta ação corrosiva, segundo o estudo, é muito provável que não se limite à crise atual, mas que se mantenha depois, já que os grupos terroristas, extremistas violentos e criminais procurarão influenciar as políticas pós-pandemia de Covid-19 para seu próprio benefício.