O ministro da Defesa Nacional de Moçambique pede uma intervenção imediata nas questões da segurança entre os Estados africanos e aponta a fragilidade das fronteiras nacionais como um elemento potenciador dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado, no norte do país.
“A porosidade das fronteiras nacionais facilita o tráfico de armas ligeiras que são usadas por grupos criminosos, terroristas e extremistas para perpetrar atos de violência, causando destruição, morte e dor nas comunidades”, afirmou Jaime Neto, durante a sua intervenção na Cimeira extraordinária da União Africana, realizada este domingo, 6 de dezembro.
Segundo o governante, esta fragilidade nos postos fronteiriços acaba por culminar no impedimento das populações de “beneficiar dos dividendos da paz na forma de emprego, educação, saúde, segurança e uma subsistência condigna”.
Recorrendo a estatísticas do continente africano e de Moçambique, o ministro defendeu que, apesar das melhorias na situação de estabilidade no continente, o trabalho em prol da paz não pode ser adiado ou mesmo relegado para segundo plano.
“De acordo com estimativas divulgadas recentemente, entre 2013 e 2017, os conflitos armados terão provocado mais de 27 mil mortos e avultados danos materiais no continente. Só no meu país, desde 2017 registámos cerca de 1.100 óbitos associados à violência armada”, declarou Jaime Neto.
O lema deste ano da União Africana está focado na necessidade de silenciar as armas no continente africano, um dos 14 projectos-âncora da Agenda 2063 da Integração e Transformação Socioeconómica do continente.
Papa envia 100 mil euros
Entretanto, o Papa Francisco doou 100 mil euros para apoiar os deslocados pela violência em Cabo Delgado, uma verba que será usada para construir dois centros de saúde, que deverão estar prontos a funcionar dentro de dois a três meses.
Segundo Luiz Fernando Lisboa, bispo de Pemba, a utilização do donativo na construção das unidades de saúde foi decidida a nível local, sendo um dos postos no distrito de Chiúre, o mais populoso de Cabo Delgado, e outro em Montepuez, um dos locais seguros que os deslocados em fuga tentam alcançar.
O Papa tem manifestado proximidade com o drama que se vive no norte de Moçambique “desde há muitos meses” e mais explicitamente “no dia de Páscoa, em que falou da crise humanitária”. Depois disso, “houve uma maior abertura por parte de muitos grupos, organizações e inclusive de vários países. Acredito que a figura dele, muito emblemática, forte, tenha dado essa ajuda para tornar esta crise não apenas nossa, de Cabo Delgado, mas uma crise em que o mundo todo tem de ser responsável”, adiantou o bispo.