Os Missionários da Consolata em Portugal vão abraçar o projeto de Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, que deseja erguer uma “Fazenda da Esperança” na sua diocese, depois de conhecer o trabalho realizado por esta comunidade terapêutica, presente em Moçambique desde 2006.
parceria está formalizada, ficando os serviços diocesanos encarregues de preparar as infraestruturas
para acolhimento dos utentes, para que depois a organização faça o trabalho de recuperação e integração social.
“Mais de metade da população moçambicana tem menos de 18 anos. O desemprego entre os jovens é muito alto, mesmo entre aqueles que completaram o ensino secundário e até o ensino superior. Existe um sentido de frustração muito grande que leva muitos jovens à fuga dos problemas com o consumo de bebidas e de drogas. Um mal social que tem consequências negativas na vida dos indivíduos e das suas famílias e que, com este projeto, nos propomos combater”, explica o prelado.
A ideia é recuperar as estruturas do antigo seminário inter-diocesano de Zobuè – construído em 1949, nacionalizado em 1975, e de seguida transformado em escola de formação de professores – e adaptá-lo para ser comunidade terapêutica de recuperação. Para isso, são necessárias obras de reabilitação, que consistem na reconstrução de algumas paredes, cobertura, colocação de portas e janelas, canalização, instalação elétrica e pintura. Quando tudo estiver pronto, estima-se, que em 10 anos, possam ser recuperados 450 jovens.
A “Fazenda da Esperança” em Zobuè está pensada para acolher jovens e adultos de ambos os sexos que desejem libertar-se da dependência de drogas e álcool. Ficará preparada para acolher também grávidas e mães com seus filhos crianças o que constitui uma grande inovação no universo alvo habitual deste tipo de projetos. A terapia consiste num processo pedagógico de 12 meses, em que o candidato recebe uma explicação dos procedimentos e das regras a serem seguidas para se recuperar e só inicia o tratamento depois de manifestar disposição e vontade de se tornar um “homem novo”.
Este modelo de recuperação nasceu no Brasil, em 1983, e o número de comunidades no mundo ultrapassa já uma centena de unidades estruturadas em vários países da Ásia, África, América e Europa, um crescimento que tem acompanhado a globalização dos graves problemas sociais que assolam a humanidade. Os beneficiários são convidados a viver no território da comunidade, de acordo com um projeto de recuperação individualizado que pressupõe acompanhamento médico, psicológico e uma componente profissional seguida de estágio que visa a sua integração no mercado de trabalho.
Francisco é um dos jovens recuperados numa “Fazenda da Esperança”. Depois do caminho de fé e de recuperação da droga, sentiu-se chamado para ser médico das almas, sobretudo entre os jovens vítimas das dependências e decidiu ser sacerdote e assim dedicar-se totalmente ao serviço de Deus e da Igreja. Agora, é um dos voluntários para trabalhar no projeto de Zobuè.
“Precisamos dar a estes jovens um lugar digno onde possam redimir-se e sair do túnel da droga e do álcool. Sei que estes são tempos difíceis. Mas mesmo pouco, o ato de dar torna-nos mais fortes e missionários”, apela Diamantino Antunes.
Texto: Simão Pedro