Nas últimas décadas a literatura infantojuvenil, um ramo da literatura dedicado especialmente às crianças e jovens adolescentes, tem-se assumido como um dos géneros mais apreciados no panorama editorial português e uma relevante ferramenta para a criação de hábitos leitura.
Impulsionados por programas públicos, como o Plano Nacional de Leitura (PNL) e a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) que têm contribuído decisivamente em Portugal para o desenvolvimento de uma estratégia de promoção da literacia no público mais jovem, cada vez mais escritores, ilustradores e projetos editoriais têm apostado na conceção de livros destinados a crianças e jovens adolescentes.
Entre as várias temáticas abordadas, o fenómeno da emigração, uma realidade socio-histórica incontornável no território nacional, tem sido alvo de múltiplas abordagens por parte de autores de literatura para crianças e jovens. É o caso, por exemplo, de António Mota, um dos mais conhecidos autores de literatura juvenil que em 2012 lançou a obra “O agosto que Nunca Esqueci”, um livro recomendado pelo PNL para leitores fluentes dos 12 aos 14 anos, que constitui um retrato da emigração portuguesa dos anos 60.
Em 2017, a famalicense Marta Pinto assinou o livro infantil “Emigração. Que palavra esquisita!”. Uma obra ilustrada por Natacha Lourosa, e cuja narrativa percorre a história de Clara, uma menina como tantas outras que vê o pai ter de viajar para longe, para outro país, para trabalhar, e que aguarda ansiosa pelo seu regresso.
No ocaso do ano de 2019, a Associação dos Emigrantes Açorianos (AEA), cuja sede funciona nas instalações do Museu da Emigração Açoriana, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel, lançou o livro infantojuvenil “Açores, uma caça ao sonho americano”, que narra a história dos primeiros açorianos que chegaram aos Estados Unidos da América, por via da caça à baleia, no século XVIII. Com pesquisa de Rui Faria, textos de Patrícia Carreiro, ilustrações de Romeu Cruz e tradução de Cristina Oliveira, o livro bilingue que se encontra traduzido para inglês, ficou disponível na costa Leste dos Estados Unidos a partir do início do ano seguinte, sendo que as receitas das suas vendas revertem para a edição de um novo livro sobre a história da emigração açoriana para o Canadá, outro dos principais destinos da diáspora açoriana.
Já no decurso do ano transato, e no seio das comunidades portuguesas, a empresária lusodescendente de terceira geração na Califórnia e dirigente do Conselho de Liderança Luso-americano (PALCUS), Ângela Simões, lançou o livro bilingue “Maria and Joao go to the Festa! A Maria e o João vão à Festa!”. Com ilustrações da luso-americana Hélia Borges Sousa e tradução portuguesa do professor luso-americano Diniz Borges, natural da ilha Terceira, nos Açores, e diretor do Portuguese Beyond Borders Institute da Universidade de Fresno State, na Califórnia, o livro direcionado para crianças dos 6 aos 12 anos, narra uma história que retrata a tradição das “Festas” das comunidades portuguesas nos Estados Unidos, e que imerge assim na génese dos emigrantes portugueses na América.
Porquanto as crianças são o presente e futuro do mundo, a conceção e realização de obras no campo da literatura infantojuvenil, com enfoque no fenómeno migratório, uma constante estrutural da história portuguesa, é simultaneamente, um importante contributo para a aprendizagem. Assim como para o processo educativo, mormente a educação para a cidadania, que visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo.