As mulheres foram as mais afetadas e os impactos são desiguais nos setores económicos, geográficos e do mercado de trabalho. Estas são duas das principais conclusões do mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre os efeitos da pandemia de Covid-19, que confirma uma crise sem precedentes nos resultados de 2020.
Segundo o documento, os últimos números mostram que, assumindo uma semana de trabalho de 48 horas, 8,8 por cento das horas de trabalho globais foram perdidas no ano passado, o que equivale a 255 milhões de empregos em tempo integral, comparado com o quarto trimestre de 2019. Esse número é aproximadamente quatro vezes superior ao número perdido durante a crise financeira global de 2009.
As horas de trabalho perdidas são explicadas por jornadas de trabalho reduzidas para aquelas pessoas que estão empregadas ou por níveis “sem precedentes” de perda de emprego, que atingiram 114 milhões de pessoas. Para a maioria destas pessoas (71 por cento), a perde de emprego surgiu na forma de inatividade, e não de desemprego, o que significa que deixaram o mercado de trabalho porque não conseguiam trabalhar – talvez devido a restrições impostas pela pandemia ou simplesmente porque pararam de procurar por trabalho.
Neste quadro marcado pelas perturbações no mercado de trabalho, as mulheres têm sido as mais afetadas, assim como os trabalhadores mais jovens. A perda de emprego entre os jovens de 15 a 24 anos foi de 8,7 por cento, comparado com 3,7 por cento para a população adulta, o que destaca o risco muito real de uma geração perdida, destaca o relatório.
Recuperação centrada nas pessoas
Quanto aos setores de atividade, o mais atingido foi o da hospedagem e alimentação, onde o emprego diminuiu em mais de 20 por cento, em média, seguido pelos setores do retalho e da indústria. Em contraste, o emprego nos setores de informação e comunicação, finanças e seguros aumentou no segundo e no terceiro trimestres de 2020. Aumentos marginais também foram observados na mineração, na extração e nos serviços públicos.
Em termos futuros, a OIT apresenta três cenários diferentes de recuperação: referência, pessimista e otimista. O cenário de referência, que se baseia nas previsões do Fundo Monetário Internacional de outubro de 2020, projeta uma perda de três por cento das horas de trabalho globalmente, em 2021, o que equivale a 90 milhões de empregos em tempo integral.
No cenário pessimista, que pressupõe que o progresso será lento principalmente no que diz respeito à imunização, a jornada de trabalho diminuiria 4,6 por cento, e no cenário otimista, a queda seria de 1,3 por cento. O controlo da pandemia, assim como o aumento da confiança do consumidor e do mundo empresarial, levaria ao cenário mais favorável. Em todos os cenários, Américas, Europa e Ásia Central registariam cerca do dobro da perda de horas trabalhadas comparado com as demais regiões.
“Os sinais de recuperação que vemos são encorajadores, mas são frágeis e muito incertos, e devemos lembrar que nenhum país ou grupo pode se recuperar sozinho”, sublinha o diretor-geral da OIT, defendendo uma recuperação centrada nas pessoas, com prioridade ao emprego, ao rendimento e à proteção social, aos direitos dos trabalhadores e ao diálogo social. “Se queremos uma recuperação duradoura, sustentável e inclusiva, esse é o caminho com o qual os decisores políticos se devem comprometer”, conclui Guy Ryder.