O mais recente relatório da Amnistia Internacional (AI) sobre o conflito armado na província moçambicana de Cabo Delgado aponta o dedo aos grupos armados e às forças governamentais, acusando as duas forças de violações dos direitos humanos durante os ataques na região norte de Moçambique.
“Centenas de civis foram mortos ilegalmente em Moçambique pelo grupo armado conhecido localmente como ‘Al-Shabab’, pelas forças de segurança governamentais e por uma empresa militar privada contratada pelo governo”, referiu a organização não-governamental (ONG), num comunicado citado pela agência Lusa.
Embora nunca tenha sido oficialmente confirmado, a AI alega que o governo moçambicano contratou uma empresa militar privada sul-africana, para fazer face às incursões dos grupos armados. “Os operacionais [da empresa] dispararam metralhadoras dos helicópteros, lançaram granadas de mão indiscriminadamente contra multidões e dispararam também repetidamente contra infraestruturas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações”, referiu a organização, citando 53 testemunhas.
A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.
Segundo Deprose Muchena, diretor da AI para a África Oriental e Austral, “os residentes de Cabo Delgado estão encurralados entre as forças de segurança moçambicanas, as milícias privadas que estão a lutar ao lado do governo e o grupo de oposição armada conhecido localmente como ‘Al-Shabab’”, sendo vítimas de alegados “crimes de guerra” que devem ser investigados urgentemente.