O trabalho conjunto e persistente de uma organização não governamental e dos comités de proteção de menores permitiu resgatar 60 meninas forçadas ao casamento infantil, desde o ano passado, um fenómeno considerado especialmente problemático nos distritos moçambicanos de Manica, Machaze, Macossa e Tambara. As adolescentes resgatadas, com idades entre os 13 e 16 anos, apresentam traumas difíceis de sarar.
“Eu não estava preparada para o casamento. Não podia ir à escola, trabalhava na machamba. Buscava água, lavava pratos. Para isso, acordava de madrugada. O membro do Comité Comunitário de Proteção à Criança (CCPC) dizia-me: ‘tens que ir à escola’. Mas o meu marido dizia que eu deveria ficar aqui, para ir à machamba”, conta Vaida Raposo, de 13 anos, que esteve casada quatro meses e agora quer estudar e ser professora.
Claudina Manuel, de 14 anos, também foi resgatada de uma união precoce no distrito de Manica, depois de ter um parto prematuro, de seis meses. Tal como Vaida, também viveu uma experiência traumática. “[Os agentes] da proteção foram até à minha casa e falaram comigo, com a minha sogra e o meu marido. Foi quando disseram que podiam levar-me e então voltei para minha casa. Comecei a ir à escola. Depois de um mês descobriram que eu estava grávida de três meses e estudava mesmo grávida, até o bebé nascer”, relata, em declarações à agência DW África.
O resgate de crianças em uniões prematuras está a ser desenvolvido pela organização Save the Children e conta com a ajuda dos Comités Comunitários de Proteção a Criança (CCPC), num projeto denominado NORAD. Para o procurador distrital de Manica, Nilton Correia, este trabalho de cooperação tem sido muito importante para identificação e denúncia de casamentos precoces, motivados pela pobreza.
“Por falta de recursos financeiros muitos pais olham para as raparigas como uma fonte de rendimento, mas há várias estratégias que a organização tem estado a usar e uma dessas diz respeito à educação dos pais e das próprias crianças para que saibam que nenhuma delas deve ser casada antes dos 18 anos de idade”, explica por sua vez a diretora de programas da organização Save the Children, Ana Dulce Guizado.