Desde que rebentou o conflito na província de Tigré, em novembro do ano passado, têm sido poucas as notícias que chegam daquela região da Etiópia. Mas as que têm sido divulgadas publicamente, sobretudo através de missionários que se mantêm no terreno, relatam um cenário de drama humanitário, com civis a fugirem dos bombardeamentos e do fogo cruzado e a procurarem comida para conseguirem sobreviver.
“São muitas as pessoas que perderam a vida ou os seus bens, muitas ficaram sem casa e milhares fogem dos bombardeamentos e tiroteios, convertendo-se em refugiados ou deslocados internos dentro do seu próprio país. Ricos e pobres batem à nossa porte todos os dias, mendigando algo que comer para sobreviver”, relataram os missionários Salesianos, citados pela agência Fides.
Segundo os religiosos, a população esteve mais de dois meses sem eletricidade, água e alimentação, uma situação que eles conseguiram graças ao poço que têm na missão e ao gerador, que tem permitido fornecer água às pessoas que se concentram nas instalações todas as manhãs.
O conflito desencadeou uma enorme crise humanitária, que afeta pelo menos 4,5 milhões de pessoas. Há mais de dois milhões de deslocados internos e dezenas de milhares de refugiados no vizinho Sudão. As organizações não governamentais temem que os confrontos envolvam outras regiões da Etiópia e os Estados vizinhos da Eritreia e Sudão, provocando uma crise humanitária de proporções ainda mais dramáticas.
Os Médicos sem Fronteiras (MSF), por exemplo, denunciaram recentemente em comunicado a destruição deliberada e o saque dos centros de saúde de Tigré: “Das 106 estruturas sanitárias visitadas pelas equipas dos MSF, entre meados de dezembro do ano passado e princípios de março deste ano, quase 70 por cento haviam sido saqueadas e mais de 30 por cento foram danificadas”.