Amparo Vilasmil, é coordenadora de atividades de saúde mental dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Cabo Delgado, Moçambique. A profissional integra a equipa que trabalha em Montepuez, a segunda cidade mais populosa da província de Cabo Delgado, e também um dos destinos daqueles que fogem da violência recente na cidade costeira de Palma.
Os MSF detêm um projeto médico em Montepuez desde novembro de 2020, ano em que a quantidade de pessoas “forçadas a fugir” para Montepuez “aumentou exponencialmente por causa da crise”. Neste momento, “cerca de 50 mil pessoas vivem em acampamentos ou na comunidade local”, refere Amparo Vilasmil, em comunicado.
De acordo com a profissional da organização humanitária, “nos últimos dias, cerca de 400 pessoas chegaram a Montepuez”, sendo que “mais de um terço delas eram crianças”. Aqueles que chegam afirmam que “muitos outros estão a caminho”, adianta Amparo Vilasmil.
Segundo a responsável, as pessoas que chegam a Montepuez encontram-se “agitadas e sobrecarregadas com o que viram”. “Choram enquanto falam sobre sua situação”, dizem que “mataram muitas pessoas” e que “mataram Palma”. De acordo com Amparo Vilasmil, as pessoas “fugiram para a floresta para salvar suas vidas e caminharam dia e noite durante quatro ou cinco dias”.
“Muitos viram cadáveres ao longo do caminho, pessoas que morreram de fome ou desidratação. A única água disponível era de um rio sujo. As pessoas geralmente seguem as estradas principais, mas dormem bem dentro das florestas para se proteger, evitando aldeias e sobrevivendo com o pouco que podem encontrar”, conta a profissional dos MSF.
A responsável da organização humanitária, explica que o organismo se encontra a trabalhar “arduamente para identificar os percursos que as pessoas que fogem de Palma estão a fazer, e para onde estão a ir”, de forma a poderem adaptar a sua resposta. Nos acampamentos em torna de Montepuez, existem “muitas pessoas que foram separadas das suas famílias durante os ataques anteriores” em Cabo Delgado. “Alguns familiares vieram para Montepuez, enquanto outros foram para Palma. E agora eles perderam todo o contacto uns com os outros. Eles não sabem onde estão ou se estão seguros, o que lhes causa muita ansiedade e stresse”, alerta Amparo Vilasmil.
Segundo a coordenadora de atividades de saúde mental dos MSF, muitas pessoas “parecem ainda estar escondidas nos arredores de Palma”. Entre outras respostas, as equipas dos Médicos Sem Fronteiras prestam apoio à saúde mental, ajudando os deslocados a “lidar com as suas experiências traumáticas e a serem capazes de seguir em frente na sua jornada”.
Texto: Juliana Batista