Esta manhã, lendo o Diário de Notícias online, deparei com um artigo de opinião, muito interessante e preocupante, sobre os efeitos da pandemia na saúde mental, de autoria de Filipe Froes e Patricia Akester. Partilho um excerto da parte conclusiva: “A pandemia da covid-19 revelou e potenciou uma fragilidade na natureza humana não percecionada, deficientemente abordada e com consequências mal caracterizadas. Por conseguinte, qualquer projeto de reconstrução passará, forçosamente, não apenas pela recuperação da economia como também pela reversão dos efeitos colaterais das medidas anticovid-19 na arena mental.”
Acredito que estes “efeitos colaterais” irão perdurar no tempo, pois ninguém esperava nada assim e, menos ainda, ninguém estava minimamente preparado para o que o Covid-19 trazia consigo. Não sendo nós todos iguais, pois somos indivíduos irrepetíveis, e, apesar das influências culturais, religiosas, económicas e sociais do país onde vivemos, cada um reage a certos fenómenos de um modo pessoal e muito seu. A verdade é que as soluções são também variadas. Pessoalmente, sendo eu uma pessoa que gosta de estar com as pessoas, algo que sempre fui desde criança, custou-me imenso ficar confinado, se bem que, por exemplo, não tendo crianças em casa, vivendo numa casa enorme com jardim, uma horta e mais espaço ainda, o meu/nosso confinamento foi muito menos estressante que o de muitas famílias. Os grupos etários que mais sofreram foram e são os jovens e os idosos; a nível profissional, destacam-se os profissionais de saúde, imersos num verdadeiro “tsunami sanitário”, ainda em ação em muitos países, bem como profissionais de outras áreas que perderam o emprego, empresas que fecharam portas, famílias que viram a sua vida mudar radicalmente, sem saber como fazer face a esta situação inesperada, entre outros. Como tal, é compreensível que a saúde mental tenha sido e siga sendo fortemente abalada.
Acredito que, para mantermos uma boa saúde mental, são necessários dois elementos fundamentais, entre vários outros: paz interior e relações pessoais com gente positiva. Claro, a estabilidade de vida a vários níveis é também importante, sobretudo económico, mas é no âmbito do interior de cada pessoa que tudo começa. Curiosamente, e começando pela paz interior, foi este o dom que Jesus ofereceu aos discípulos em primeiro lugar, quando lhes apareceu após ressuscitar. Na verdade, e se me permitem fazer uma comparação, a vida deles tinha também sofrido uma reviravolta radical, sobretudo em dois momentos: quando deixaram tudo para seguir Jesus e no momento da Sua morte na cruz. Ou seja, investiram tudo n´Ele, mas, ao fim de três anos, perderam tudo. O medo apoderou-se deles, pois se fossem apanhados, seriam condenados à morte; Jesus, sabendo disto, oferece-lhes a paz interior, paz que acalmou o coração e apagou o medo e a incerteza que tinham em relação ao futuro; paz que trouxe uma renovada harmonia à comunidade dos discípulos, pois sem harmonia e comunhão de intentos, não se pode trabalhar bem em grupo; paz que trouxe a confirmação de que Jesus era Filho de Deus e que a Sua missão não tinha sido em vão; paz que trouxe a certeza de que a sua adesão a Jesus e ao Seu projeto de amor pela humanidade “tinha pernas para andar”, pois Ele confiava neles e sabia do que eram capazes. Acredito que esta paz pode também fazer muito por nós e que, sem ela, “a vida perde sabor e essência”!
Em segundo lugar, é fundamental “estarmos afetiva e emocionalmente ligados a pessoas positivas”, pessoas que puxam por nós sempre que estamos na mó de baixo, que nos conhecem e compreendem, apoiam e zelam pelo nosso bem-estar a todos os níveis. A importância destes amigos aparece já descrita no Antigo Testamento: “um fiel amigo é uma poderosa proteção; quem o encontrou, descobriu um tesouro” (Eclesiástico 6:14). Porém, recordemos que, por outro lado, devemos ser também um “tesouro” para quem Deus coloca na nossa vida e que connosco caminha, em todas as situações da vida.