Manuel Fontaine, diretor de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), esteve de visita à província de Cabo Delgado, em Moçambique, onde se vive um confronto entre tropas do governo e extremistas islâmicos desde 2017, provocando um grande número de deslocados, feridos e mortos.
Segundo Manuel Fontaine, a “crise humanitária deve durar muito tempo”. Um terço da população em Cabo Delgado encontra-se a viver fora das suas casas, e em cidades onde foram acolhidos aqueles que escaparam à violência, a população triplicou. Manuel Fontaine elogiou a solidariedade de agregados familiares de “cinco pessoas que abrigam 20, 30 deslocados em casa”.
De acordo com Manuel Fontaine, a situação de desnutrição é motivo de preocupação entre os deslocados internos, assim como a cólera, que tinha começado a diminuir na região, mas que face às condições atuais poderá vir a aumentar. Manuel Fontaine afirma que ficou “alarmado com os relatos de violência como sequestros, violência de género e histórias terríveis de sofrimento por pessoas que passaram dias a tentar escapar a pé, e que chegaram a Pemba com os pés inchados e marcas de ferimentos”. Para Manuel Fontaine, há também uma crise de proteção, conforme indicou o próprio, em declarações à comunicação social.
O Unicef identificou já “220 crianças desacompanhadas”, na sequência da separação das famílias aquando da invasão dos grupos armados à cidade de Palma. Segundo os serviços de comunicação das Nações Unidas, “uma das crianças contou ao Unicef que viu a mãe ser assassinada e, por isso, correu para fugir dos criminosos”. O pai desta criança encontrava-se “noutra parte da cidade, na hora do ataque, e até agora não foi encontrado”. De acordo com a ONU, “muitas crianças não conseguem articular o que aconteceu devido ao trauma sofrido”.
Manuel Fontaine afirma que “partes de Palma continuam inseguras para os agentes humanitários”. A Organização Internacional para Migrações (OIM) e o Unicef já registaram mais de 16,5 mil pessoas chegadas de Palma em busca de proteção. O UNICEF afirma que “precisa de assistência alimentar, água e itens básicos para os moçambicanos que estão a fugir da violência em Cabo Delgado”. A agência das Nações Unidas pretende também “apoiar o regresso dos alunos às aulas”. Segundo as Nações Unidas, “existem 950 mil pessoas a passar fome severa no norte de Moçambique”.
Texto: Juliana Batista