Os problemas a que estão sujeitos os trabalhadores imigrantes no concelho de Odemira são variados. Há “problemas da habitação” e a “maioria não tem acesso a médico de família”, alertou Isaurindo Oliveira, presidente da Cáritas Diocesana de Beja, a propósito da cerca sanitária nas freguesias de São Teotónio e de Almograve, decretada devido ao elevado número de casos de Covid-19 naquela região, nomeadamente entre os trabalhadores do setor agrícola.
Em declarações à agência Ecclesia, Isaurindo Oliveira referiu que a ligação entre a empresa agrícola e os trabalhadores migrantes muitas vezes “é feita através do intermediário” e, depois, surge uma segunda questão, que são as relações de contratos “muitas vezes precária, duvidosa, falsa”. É neste contexto que iniciam os primeiros contactos dos migrantes com a Cáritas diocesana porque “ficam sem vencimento ou é extremamente reduzido”.
A Cáritas Diocesana de Beja detém um Centro Local de Apoio à Integração dos Migrantes (CLAIM), financiado pelo Alto Comissariado para as Migrações, onde é realizado um primeiro atendimento para ajudar estas pessoas a “resolver os problemas administrativos, entrevistas com o SEF, manifestações de interesse, questões de residência”. Neste âmbito, são verificados problemas, “que não fazem parte da missão do CLAIM´, mas da Cáritas”, nomeadamente no que diz respeito à saúde, habitação, crianças, as quais se tentam resolver através das valências da instituição ou outras entidades públicas.
Isaurindo Oliveira lembra os “problemas de habitação” destas pessoas, as quais ficam a viver em “lugares que têm um teto, com questões de insalubridade, onde cabem duas ou três pessoas mas, muitas vezes, estão 30, 40”. O presidente do organismo humanitário da Igreja Católica frisa que os migrantes “deviam ser tratados em igualdade de circunstâncias”, que são “essenciais” para a economia local, que dão o seu contributo para o país, e que sem eles a maior parte das produções não seria possível.
Neste cenário, Isaurindo Oliveira questiona a existência de “cidadãos de segunda classe”, mas que “pagam impostos”. “Temos de pensar muitas vezes quando fazemos estas críticas com o que se passou com os portugueses na década de 60. Não ouço sindicato nenhum falar das condições de trabalho desta gente: Estas pessoas deviam ser tratadas em igualdade de circunstâncias às nossas”, apelou o responsável.