Ainda que já consigamos vislumbrar a luz ao fundo do túnel, os efeitos de isolamento social derivados do cenário pandémico global que vivemos há sensivelmente dois anos, concorrem para que uma vez mais as comemorações do Dia de Portugal no seio das Comunidades Portuguesas, as mais genuínas manifestações de amor à pátria lusa, decorram numa configuração mais simples e simbólica
Como no território nacional, onde o 10 de junho será assinalado oficialmente na Região Autónoma da Madeira, sem comemorações no estrangeiro pelo segundo ano consecutivo, sendo que este ano esteve previsto que acontecessem também na Bélgica, as celebrações no seio da Diáspora prosseguirão num modelo minimalista mas não menos afetivo.
Antevêem-se portanto, uma vez mais, comemorações simbólicas do Dia de Portugal, com recurso às plataformas digitais como meio de mitigar o isolamento social, assim como singelas cerimónias presenciais onde o hastear da bandeira e o entoar do hino nacional decorrerão com poucas pessoas e regras sanitárias.
Na antecâmara das comemorações de mais um 10 de junho, e perante o contínuo impacto social da pandemia que entrava o normal quotidiano das sociedades, urge uma ampla reflexão aquém e além-fronteiras sobre o futuro das Comunidades Portuguesas, tanto que persistem os casos de dificuldades no seu movimento associativo.
Dificuldades que se arrastam perante a impossibilidade de realização de eventos e iniciativas, como é o exemplo cimeiro do Dia de Portugal, e que são em muitos casos indispensáveis para a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento das associações, como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a sua manutenção.
O risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das Comunidades Portuguesas é real, e é ainda agravado pela problemática do envelhecimento dos seus quadros dirigentes, da maioria dos seus associados e da escassa participação dos lusodescendentes.
Este risco de erosão associativo no seio da Diáspora só não tomou ainda dimensões alarmantes, devido ao espírito de engenho e solidariedade dos emigrantes portugueses, em particular, da resiliência, dedicação, esforço e carolice dos associados e dirigentes das associações lusas, assim como dos seus patrocinadores e empresários mecenas que têm dado um contributo vital na sobrevivência do movimento associativo.
Este momento delicado que o movimento associativo da Diáspora atravessa, se por um lado demanda junto das autoridades governativas das pátrias de origem e de acolhimento um reforço de apoios extraordinários destinados às ações e projetos das associações. Por outro lado, impele que as forças vivas do movimento associativo das Comunidades Portuguesas coloquem definitivamente em cima da mesa, não só, quando a vida voltar a breve trecho a normalizar, a diversificação de atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades com novas dimensões socioculturais que possam atrair as jovens gerações de lusodescendentes.
Como também a adoção de um novo modelo de atuação e organização das associações, que necessariamente terá que passar, em vários quadrantes da geografia da Diáspora, por um paradigma de partilha de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com dignidade e dimensão a valiosa argamassa identitária das Comunidades Portuguesas.
Um modelo de “Casa de Portugal”, de portas sempre abertas a tudo e a todos, com uma agenda capaz de congregar as diversas sinergias do movimento associativo e de potenciar o coletivo, a união e os parcos recursos humanos e financeiros, em prol da cultura portuguesa.
Que perante as adversidades que nos últimos dois anos temos enfrentado, em particular, o movimento associativo das Comunidades Portuguesas, saibamos com esperança e solidariedade fazer das fraquezas forças, dos desafios oportunidades, para assim construirmos um futuro melhor, e em breve nos encontrarmos todos, presencialmente, em torno na Bandeira Portuguesa.
A todos os portugueses, aquém e além-fronteiras, um Feliz Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.