Abiyot Desalegn é um sacerdote responsável pela paróquia de Itang, na Etiópia, junto à fronteira com o Sudão do Sul. Em declarações ao ‘O clarim’, o semanário católico de Macau, o religioso traçou algumas características da população. “Trabalho no total com nove capelas e nove comunidades, sendo que estas não têm água potável, não têm escola, não têm moagens, não têm eletricidade, não têm clínicas itinerantes. As pessoas adoecem com malária, não têm alimentos e as crianças não frequentam a escola. A vida é difícil tanto para os locais como para os refugiados. As pessoas pedem-me sempre que lhes ofereça alimentos e bebidas”, conta o religioso, alertando para outro dos problemas verificados.
“O número de mulheres pobres nas diversas aldeias que compõem a paróquia de Itang é bastante significativo (…) Cruzamo-nos, com regularidade, com mulheres com grande debilidade em termos físicos, muitas das quais visivelmente doentes. Muitas sofrem com a malária por não terem acesso aos nutrientes que as ajudam a resistir à doença. Os níveis de imunidade são muito baixo. São pessoas que necessitam e merecem ser apoiadas.”
Com o objetivo de apoiar as mulheres em situação de fragilidade, o religioso pretende desenvolver um projeto para “financiar a criação de animais”. “É algo com o qual podem assegurar o seu próprio sustento, ao mesmo tempo que se sentem empoderadas. Com isto, esperamos que possam depender apenas de si próprias. Esperamos que este projeto ajude a minimizar muitos dos problemas com que se deparam tanto os benfeitores, como os beneficiários, e possa dar resposta às necessidades com que estas mulheres se deparam”, explicou o sacerdote, fazendo também referência ao conflito na região de Tigray.
“O conflito entre as forças governamentais e as forças rebeldes na região de Tigray, no norte do país, mergulhou a Etiópia numa situação de tumulto. Os combates já se prolongam desde novembro e já causaram centenas de mortos. Na origem dos combates está uma luta pelo poder, as eleições e a perceção de que são necessárias reformas políticas. A crise estendeu-se a toda a Etiópia. A vida em Itang encareceu e houve deslocações massivas de população: há refugiados das tribos de montanha, Anyuak, Nuer. Os ecos do conflito não se fazem sentir apenas em Itang. A verdade é que a guerra nunca terminou verdadeiramente; sempre houve guerra. Na região de Itang, por exemplo, nunca houve paz entre estas duas tribos, os Anyuak e os Nuer. Mesmo para pessoas que propõem servir, como nós, na Igreja, as perspetivas são difíceis. A meu ver, é necessário reforçar o diálogo e os processos de edificação da paz”, considera o religioso.