“A situação no Líbano está muito, muito má”. As palavras são de Maria Lúcia Ferreira, uma religiosa portuguesa, também conhecida como irmã Myri, que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, na Síria, e que pertence à congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, uma comunidade religiosa que também está presente no Líbano.
De acordo com Maria Ferreira, as religiosas da sua congregação que se encontram no Líbano são contactadas com regularidade por pessoas angustiadas, habitualmente mães que pedem apoios para levarem alimentos aos seus filhos. “As nossas irmãs dizem-nos que famílias que estavam muito bem, telefonam a dizer – ‘Peço desculpa, mas as nossas crianças estão a passar fome, já não temos [comida], os nossos frigoríficos estão vazios’ – Esta é um bocadinho a situação geral”, conta a religiosa portuguesa.
Ainda de acordo com a irmã Myri, “a partir de 22 de junho, deixou de haver eletricidade estatal no Líbano”. “Quer dizer que muitas famílias vão ficar às escuras, nem poderão carregar um telefone. Noutro dia a nossa madre [Agnès de La Croix, que está no Líbano] quase chorou no encontro vídeo [com o mosteiro em Qara], porque realmente as pessoas estão a passar fome”, relata a irmã, numa mensagem enviada à fundação Ajuda à Igreja de Sofre (AIS).
A Organização das Nações Unidas (ONU) descreve a crise económica do Líbano “como a pior da sua história”, através de um comunicado divulgado na última semana. “A moeda local está desvalorizada, o poder de compra diminuiu e o país atravessa uma fase de hiperinflação. Entre abril de 2019 e abril de 2021, o Índice de Preço do Consumidor subiu mais de 208 por cento e os libaneses sofreram com um aumento de 670 por cento na compra de alimentos e bebidas. As taxas de desemprego dispararam e mais da metade dos libaneses agora vivem na pobreza”, alerta a ONU.
A crise económica no Líbano piorou com a explosão acidental que afetou o porto de Beirute no início do mês de agosto do último ano. Thomas Heine-Geldern, presidente executivo internacional da fundação AIS, considera que essa explosão “tornou a catástrofe humanitária já existente simplesmente insuportável para muitos” dos residentes naquele país. Perante este cenário dramático, o encontro entre o Papa Francisco e os “principais líderes das comunidades cristãs” do Líbano agendado para esta quinta-feira, 1 de julho, no Vaticano, torna-se num motivo de esperança em prol do bem-estar deste povo.