Gerardo Secondino, irmão missionário da Consolata italiano, tem 62 anos de idade, e este verão celebra 25 anos de profissão religiosa. O missionário recorda com saudade e alegria o trabalho missionário que desenvolveu na Escola de Artes e Ofícios (EAO), em Maúa, Moçambique, país para onde foi enviado em 2002, e onde esteve mais de dez anos em missão. Segundo o missionário, a EAO “surgiu da necessidade de formar pessoas em várias profissões”, como por exemplo “pedreiros e carpinteiros”.
“Os estudantes vinham das povoações muito pobres das missões, e muitos não tinham dinheiro para pagar as matrículas. A estes dávamos-lhe a oportunidade de semearem e cultivarem naqueles terrenos, depois vendiam alguns produtos e assim ajudavam a escola a suportar os custos dos seus estudos. O curso durava três anos e saía-se de lá com a qualificação de pedreiro ou carpinteiro, diploma que até era reconhecido pelo governo moçambicano. O que mais me surpreendeu: dois rapazes muito pobres e com algumas deficiências conseguiram terminar o curso, e quando acabaram choraram muito. Recordo sempre essa situação. Também fiquei muito emocionado”, lembra o religioso, em declarações prestadas aos missionários da Consolata.
Em Portugal, o irmão Gerardo conviveu com alguns refugiados que durante mais de 20 meses estiveram presentes na comunidade dos missionários da Consolata no Cacém. “Eram três refugiados: o Ismael e o Salim, ambos muçulmanos, do Sudão do Sul, e o Bright, da Nigéria. Apesar de serem de religiões e culturas tão diferentes da nossa, integraram-se de tal maneira bem com a nossa comunidade que o dia em que se despediram de nós, por já ter terminado o programa de acolhimento e já terem encontrado trabalho, não conseguiram segurar as lágrimas. A minha experiência foi muito boa. Apreciei muito o esforço que esses rapazes fizeram aqui. Tendo vindo da terra deles, e sobretudo, tendo sofrido tudo o que eles sofreram para chegar até aqui. O Ismael, por exemplo, viajou durante cinco anos, atravessou desertos, o Mediterrâneo em barcos lotados e precários, passou por campos de refugiados, enfrentando perigos para chegar até aqui. E, depois, chegar aqui e encontrar uma comunidade como a nossa, que os acolheu desta maneira. Fizeram um grande esforço, com muita humildade e muita paciência, para aprender português, para se inserirem numa cultura absolutamente diferente. Eles manifestaram muita gratidão por tudo”, recorda.
O convívio entre sacerdotes, irmãos e seminaristas com muçulmanos nunca representou qualquer problema. “Ninguém mudou a sua forma de ser. Cada um respeitando o outro como gostaria de ser respeitado. Se não podia comer carne de porco, comia de frango ou de vaca… Sem problemas. Nós fazíamos as nossas orações e eles as deles. Mas em muitos momentos do dia fazia-se vida em comum. Para mim, foi uma graça muito grande, uma experiência muito bonita, superpositiva, que repetiria ainda muitas mais vezes. O amor foi o segredo para a convivência e para tudo o resto”.
O irmão Gerardo Secondino faz um balanço bastante positivo de todo o seu percurso. “Gosto de ser irmão, de dar uma palavra de conforto, de ouvir quem precisa de falar, de ser ouvido, de ajudar quem precisa de ajuda. Sem fazer coisas grandes, nem castelos ou coisas enormes. Fazer aquele pouco de cada dia, aquelas coisas pequenas que depois te enchem a vida”. A Eucaristia de ação de graças pelos 25 anos de profissão religiosa do irmão Gerado Secondino teve lugar no passado domingo, 22 de agosto, no Centro Missionário Padre Paulino, no Cacém. “Agradeço a Deus por tudo o que me tem dado até hoje, por tudo o que tem feito na minha vida até hoje”, disse o religioso na celebração presidida por Ermanno Savarino, superior daquela comunidade, e concelebrada por Albino Brás, da comunidade dos missionários da Consolata de Lisboa, e por Joaquim Gonçalves, da comunidade do Instituto Missionário da Consolata de Fátima.