Considerado como o “exonerador implacável”, João Lourenço, presidente da República de Angola, encontra-se, a um ano das eleições, numa situação considerada muito fragilizada. As campanhas de combate à corrupção revelaram um alcance limitado e a crise económica tem mobilizado a contestação social e o reforço da oposição.
A propósito dos quatro anos de mandato de João Lourenço, o coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA) fazia um balanço muito contido sobre a liderança do presidente da República. Considerando injustas as afirmações de que a atual governação era pior do que a anterior, Sérgio Calundungo admitia, no entanto, retrocessos em vários domínios da vida política e social do país.
Visto como o homem da transição política, depois de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, a popularidade do atual presidente da República de Angola não tem resistido à desilusão das promessas por cumprir. As iniciativas de combate à corrupção contra altos dirigentes do MPLA, o partido no poder, acabaram por revelar um alcance limitado na vida dos angolanos. Apesar de menos mediáticos do que os processos levantados à família de José Eduardo dos Santos, os angolanos sentem com mais veemência a corrupção e a desorganização que grassa nos serviços públicos, a subida constante dos preços ou a falta de emprego.
De acordo com as Previsões Económicas Mundiais, divulgadas em outubro, pelo FMI e o Banco Mundial, Angola poderá registar este ano um crescimento de 0,7 por cento, o que a verificar-se será o pior resultado nas economias dos países africanos de língua portuguesa, que crescerão, em média, 2,5 por cento.
Com uma taxa de desemprego que ronda os 30 por cento, a promessa eleitoral de João Lourenço, de criar 500 mil novos empregos durante o seu primeiro mandato, apresenta-se como uma miragem. No último ano, o descontentamento trouxe milhares de manifestantes às ruas, um pouco por todo o país. Muitas dessas manifestações ficaram marcadas por uma forte repressão policial, com detenções, feridos e mortes.
Oposição junta-se
Neste contexto, as atenções têm-se voltado para o Congresso do MPLA, previsto para dezembro. A decisão de José Eduardo dos Santos de regressar ao país tem sido interpretada como uma decisão política, com vista a influenciar a futura liderança do partido, podendo aumentar as divisões internas e as pressões políticas sobre João Lourenço.
A pressão política tem aumentado também do lado da oposição, com a recente constituição da Frente Patriótica, uma coligação entre a UNITA, o PRA-JA Servir Angola e o Bloco Democrático. No próprio dia em que foi anunciado o nome do líder da coligação, Adalberto Costa Júnior, da UNITA, o Tribunal Constitucional (TC) angolano deu razão aos que contestavam a sua eleição, no Congresso de 2019, por, supostamente, manter a nacionalidade portuguesa. Adalberto Costa Júnior, que disse pretender apresentar documentos que provavam a falta de fundamento das acusações, não deixou de considerar que “o TC era um instrumento partidário” ao serviço do governo angolano.
Texto: Carlos Camponez