Depois de terem sido carregados em Fátima por 35 voluntários, no passado dia 12 de novembro, esta terça-feira, dia 23, dois contentores carregados de bens deixam o Porto de Sines e partem rumo ao Porto da Beira, em Moçambique. Todos os bens a doar serão transportados no navio Conti Everest. A deslocação deverá prolongar-se ao longo de 39 dias. Prevê-se que a chegada dos bens ao Porto da Beira deva acontecer a 1 de janeiro de 2022.
Este envio de bens é organizado pelos Missionários da Consolata e pela sua instituição, a Fundação Allamano, contando com o apoio do projeto “Um grito por Cabo Delgado”. Seguem em dois contentores medicamentos, material de saúde, papas, leite, enlatados, camas, beliches, colchões, lençóis, toalhas, loiça, panos, caixas de ferragens, material escolar, livros para criar bibliotecas escolares, pás, marretas, picaretas, vestuário, brinquedos, imagens de Nossa Senhora de Fátima e de santos, terços, 5 mil crucifixos e missais dominicais em chinungwe, uma língua falada por quase 1 milhão de pessoas na província de Tete.
Simão Pedro, missionário da Consolata e responsável pela iniciativa, destaca a oferta de medicamentos e material médico por parte de dois laboratórios – B-Braun e Bastos Viegas. As loiças foram oferecidas pela Matcerâmica, de São Mamede (Batalha), e as caixas de ferragens foram doadas pela MiniMola, de Rio Meão, em Santa Maria da Feira, e pela Sofima, de Leiria. Parte do material escolar foi doado pela papelaria Cruzmapa, de Ribeirão, e 19 caixas de livros foram doadas pela editora Papa-Letras. As enxadas para aquele povo moçambicano foram feitas pelo próprio pai do padre Simão Pedro, que reside em Trofa. Existem também diversas ofertas provenientes da Consolata Loja, Missionários da Consolata, e dos Armazéns Carriço, em Trofa. A deslocação destes bens desde Fátima até ao porto da Beira é inteiramente doada por empresas transportadoras, nomeadamente a Torrestir e a MedWay. O transporte de Beira até Tete é oferecido pelas Forças Armadas Portuguesas.
Simão Pedro afirma estar de “coração cheio” com toda a bondade envolvida nesta iniciativa. “É mesmo uma maravilha. É tudo grátis. Estou mesmo feliz e maravilhado com a união de forças que houve para conseguirmos juntar estes dois contentores. Um vai ser fundamental para a saúde da diocese de Tete porque vai cheio de medicamentos e material médico, coisas que lá não existem, e que através de Diamantino Antunes, bispo em Tete, vão chegar aos vários postos de saúde, em colaboração com o Ministério da Saúde de Tete, que deu o parecer e que fez o pedido de isenção às alfândegas de Moçambique. O segundo contentor é de bens necessários. Os missais são essenciais para as celebrações semanais, são fundamentais para a assistência espiritual de toda aquela população de uma diocese que é maior que Portugal. Os cinco mil crucifixos feitos por José Afonso, irmão Missionário da Consolata, vão servir para divulgar a espiritualidade e fomentar este espírito evangélico em todas as pessoas daquela grande diocese”.
A partir de terras moçambicanas, Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, mostra-se muito grato e feliz por todos os bens que estão a caminho da diocese que conduz. “Sinto uma alegria grande porque as pessoas de boa vontade têm o coração aberto às necessidades, sobretudo dos mais pobres, e souberam mobilizar-se para reunir todos estes materiais que fazem falta à diocese de Tete e que nos irão ajudar a apoiar outras pessoas. É uma alegria grande. O contentor que tem material médico e hospitalar é de grande importância no contexto atual, em que faltam medicamentos. Os hospitais e centros de saúde estão sempre numa situação limite, muito difícil, devido à crise económica e tantos outros fatores. Todo esse material vai ser de grande utilidade e é esperado com ansiedade”, disse o prelado, destacando também a importância do material que será transportado no segundo contentor.
“Entre o material vário que chegará em outro contentor, é de grande relevo e importância o missal em língua chinungwe, impresso em Portugal. É importante para a celebração dominical, pois contém as leituras do domingo, e em muitas comunidades a celebração faz-se em chinungwe, a língua local. É um instrumento litúrgico em que a tradução já tinha sido feita há muitos anos, mas faltava a sua impressão e finalmente conseguimos! Há muita esperança e expetativa. No que diz respeito aos livros e material vário como colchões, estes vão permitir apetrechar obras sociais, residências de missionários, lares, internatos e centros de saúde. São coisas que não se encontram em todo o lado e todas elas são necessárias e aguardamos com grande expetativa”, refere o prelado.
Simão Pedro afirma que toda esta mobilização de esforços mostra que a sociedade consegue “pensar naqueles que estão distantes e que são mais desfavorecidos, mais pobres”, e que perante uma realidade dura, os cidadãos conseguem ser “solidários em todas as vertentes, seja a nível da alimentação, da educação, ou a nível espiritual”.