A Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece, sob a forma de direito internacional, que “os Estados Membros devem assegurar que todas as crianças sejam capazes de desenvolver as suas personalidades, talentos e capacidades ao seu máximo potencial; cresçam numa atmosfera de felicidade, amor e compreensão; e sejam informadas sobre a forma de alcançar os seus direitos”.
A obrigação de cuidar desta forma, exigente e bela, afeta-nos a todos. A nossa tarefa como figuras de referência para as crianças passa por aprender a gerir o equilíbrio entre dar autonomia e permanecer firme, a fim de alcançar um desenvolvimento integral adaptado às necessidades da criança. Qualquer ajuda desnecessária é um obstáculo ao desenvolvimento. Os adultos são responsáveis pela calma e estabilidade das crianças, e pela sua saúde mental e física, por isso amor e limite são equiparados a proteção e cuidado. Assim se ajuda as crianças a internalizar o autocontrolo e a regular as emoções.
Quando o vínculo afetivo – benévolo, empático e carinhoso – se apoia em limites serenos, a criança sente-se confiante e protegida. Isto fomentará o respeito mútuo e um sentido de liberdade e paz de espírito para descobrir, de forma autónoma, o mundo à sua volta. E aí nasce a felicidade. A felicidade de se descobrir como é no seu melhor; a felicidade de se saber amada; a felicidade de poder desabrochar em pleno o seu potencial.
Temos por isso de aprender a encontrar um equilíbrio entre a necessidade de harmonizar limites e a plena liberdade, entre o “Não” e o “Amo-te”. A integração de regras no ambiente da criança é assim um importante direito. No entanto, a criança não deve nunca ser impedida de explorar, descobrir ou inventar, pois o direito ao lúdico e à exploração do mundo é vital para florescer. Tal como o direito ao amor absoluto. O alcance de educar a criança neste equilíbrio, com respeito, compreensão e consideração, é talvez a mais importante tarefa da família. Nestes tempos de incertezas e medos, de múltiplas pobrezas emocionais e fraquezas de virtudes, proteger desta forma os direitos da criança dá-nos um horizonte de futuro luminoso.
Texto: Helena Águeda Marujo, Cátedra UNESCO em Educação para a Paz Global Sustentável, Universidade de Lisboa