É evidente o cansaço. Os números altos da pandemia estão de regresso, buscas, no âmbito de processos judiciais em curso, sucedem-se, cimeiras do clima ficam aquém do urgente, migrantes são arma política na gestão de confrontos entre nações e os seus interesses, e países são chamados a eleger para governo quem não consegue inflamar e convencer o eleitorado. Estas e outras, as circunstâncias que um madrugador anoitecer, o frio e a chuva de um outono de novembro tornam ainda mais pesadas. São já muitos os anos de uma visível e generalizada estagnação, que o próprio passar do tempo deteriora e torna obsoleta. A pandemia e a forma como se tem lidado com ela têm-nos mantido de joelhos, e parece estar ainda bem longe deste nosso “agora”, o caminhar erguido de um povo confiante no seu presente-futuro.
Iludem-se novos dias, quando a esperança é a última a morrer, mas o que repetidamente estas e outras conjunturas revelam, ao fazerem sentir, no corpo das coisas, o seu deprimente fardo e fadiga, é que a realidade só poderá ser outra se a vontade humana fortemente a desejar e efetivar. Não são muitas as vozes que fazem genuínos e constantes apelos à mudança. Não são muitos os lideres que, de forma exemplar, refletem, nos seus rostos, a forma de vida que o hoje urge e exige de todos. O barulho é enorme em manifestações, em cimeiras, em debates, mas o que resta destas autenticas montanhas, depois dos estrondos volcânicos, nem “ratos” chegam a ser.
Haverá quem goste mais de uma do que de outra estação do ano, quando todas elas são belas e importantes. Mas há no outono-inverno, para lá dos seus tons mais acinzentados e melancólicos, um repetido convite à interioridade do que é provavelmente basilar, alicerçante, fundante. Mais propensos, nos enregelados corredores da vida, a procurar o calor de nós mesmos, dos nossos pensamentos, espaços e lares, o encontro, o abraço, a comunhão, o aconchego, que é sempre plural e que levam justamente à celebração anual do Natal, dos seus valores, emergem, quase por explosão da natureza e do próprio ser das coisas, como a chave sem a qual o atual momento e outros nunca se poderão resolver e vencer.
A atual estratégia de afirmação egocêntrica e de rutura com os outros, ditos adversários, endossada pela maioria dos partidos políticos às eleições legislativas de janeiro, não só revelam que ainda se vive num outro tempo em Portugal, arcaico, porventura, como um critico-esforço-de-todos, em nome e a favor exclusivamente de um país à beira demasiadas vezes do abismo da ruina, permanece uma experiencia de outono-inverno por conhecer e sobretudo viver.