A sessão de abertura do processo de beatificação e canonização de João de Deus Kamtedza e Sílvio Alves Moreira, sacerdotes também conhecidos como mártires de Chapotera, decorreu este mês no Santuário de Nossa Senhora da Conceição do Zobuè, na diocese de Tete, em Moçambique. Nesta cerimónia, Sandro Faedi, sacerdote e postulador da causa, pediu que se desse início ao processo informativo sobre o martírio, e fama de martírio, daqueles religiosos.
O pedido do postulador foi acolhido por Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, foram nomeados todos os membros do tribunal da causa, e indicadas as “testemunhas que se dispõem a dar o seu testemunho sobre a vida e martírio dos catequistas”. Segundo Diamantino Antunes, “são quase uma centena de testemunhas, entre familiares, missionários, conhecidos e testemunhas do massacre, que irão ser interrogados nos próximos meses em diferentes sessões pelo Tribunal Diocesano da Causa. Sendo esta uma causa de martírio, deverá ser averiguado se os sacerdotes foram mortos por ódio à fé cristã ou a alguma das virtudes ligadas à fé”. O bispo de Tete lembra que aqueles que são conhecidos como os “mártires de Chapotera foram mortos a 30 de outubro de 1985, no contexto da guerra civil que devastou Moçambique, quando estavam a trabalhar na Missão de Lifidzi”.
“Os padres João de Deus Kamtedza e Sílvio Alves Moreira viviam totalmente dedicados ao bem do povo, sendo muito estimados por cristãos e pagãos. Através das suas últimas cartas, nota-se claramente que eram conscientes do perigo que estavam a correr. Voluntariamente tinham feito diante de Deus a opção de partilhar até ao fim do sofrimento e da sorte do povo sacrificado. Eram conscientes do risco que estavam a correr. Preferiram correr o risco, a abandonar as ovelhas, quando todo o rebanho estava a ser selvaticamente atacado. Constituíam testemunhas incómodas dos crimes, que dia e noite se cometiam contra a população. Impunha-se fechar para sempre aqueles olhos e calar aquelas bocas. A missão e o testemunho dos padres João de Deus Kamtedza e Sílvio Alves Moreira, abruptamente interrompida, são inspiradoras para todos nós: foram plenamente cristãos de fé, caridade e coragem. Como Jesus Cristo, Rei dos Mártires, deram-se sem medida, até dar a vida à morte, a qual é vida sem fim. Foram pastores esclarecidos, viveram só para as ovelhas à imagem de Jesus Bom Pastor. Um exemplo que nos inspira e mobiliza para ser uma Igreja que deve fazer tudo para todos, serva dos servos de Deus”, destaca Diamantino Antunes.