Há um lençol de generosidade que corre no subsolo das cidades, abundante e fresco. Sei-o não apenas por intuição ou desejo, mas por verificação, repetida ao longo dos anos em que participo na coordenação de uma rede de voluntariado social. Todos os dias nos chegam evidências dele, ora individuais, ora em empresas, escolas, associações, serviços e organismos públicos, comunidades de fé. Quando fazemos um ‘furo’ aqui ou ali, anunciando uma necessidade ou abrindo uma oportunidade de contribuir, logo essa generosidade jorra forte. Estas são boas notícias, das que raramente são anunciadas nos noticiários, mas que são um sinal de esperança viva para as cidades em tempos tão desafiantes como os que temos vivido e os que se anunciam.
Fomos criados com esta generosidade, uma espécie de músculo que integra a nossa constituição humana e que, como todos os outros músculos, ao ser exercitado melhora substancialmente a nossa saúde. Como cristão sei que esta generosidade é algo que vem na ‘imago Dei’, a nossa imagem e semelhança com o Criador, que deu e se deu e nos chama a dar. Mas mesmo que não fosse crente teria de reconhecer não só a provisão abundante como a extrema necessidade desta característica para a nossa existência. O paradigma da acumulação em que temos construído a nossa civilização está totalmente falido, como vemos pela destruição massiva dos ecossistemas naturais, a preocupante crise climática, e este cansaço de que todos se queixam e que já foi denominado como “a sociedade do esgotamento”.
Aproveitemos o Dia Internacional do Voluntariado, celebrado no passado dia 5 de dezembro, o Dia Internacional da Solidariedade Humana, assinalado no próximo dia 20, a época de maior sensibilidade causada pela mensagem de um bebé-salvador e o início de um novo ciclo anual, para nos inscrevermos no ginásio da generosidade e da humanidade. Mesmo que a ideia de um ginásio sempre evoque algum esforço, a insistência nele tem todo o tipo de vantagens e até pode causar algum “vício” bom… Fazermos o compromisso de dar regularmente do nosso dinheiro e ou do nosso tempo não é algo que seja assim tão difícil, menos ainda quando o que recebemos é muito maior. A cidade global, este planeta que é a casa de todos nós, precisa de uma mudança imediata de paradigma, do da acumulação para o da dádiva. E essa mudança começa em cada um de nós. Vamos a isso?