Nos últimos anos, a experiência do Natal tem sido para mim cada vez mais diferente devido ao contacto com as diversas realidades culturais que tenho encontrado. Partindo de Mecanhelas, em Moçambique, a minha terra de origem, passei pelo Quénia, Roma, Turim e, finalmente, Lisboa, conseguindo experimentar formas variadas de celebrar o Natal. Há muitos modos de o representar. A tradição do presépio é um modo eloquente de representar o nascimento do Salvador. As representações podem assumir as mais variadas facetas, mas não pode faltar, em nenhuma delas, o elemento central, que é celebrar o nascimento de Jesus e estarmos dispostos a acolhê-lo no coração.
Creio que durante a minha infância, a celebração do Natal era um acontecimento ímpar e trazia-me muita alegria. Nunca faltava às missas de Natal para ver o Menino Jesus colocado no presépio, organizado na paróquia de Mecanhelas. Era também um período em que estávamos à espera para receber presentes dos pais, de andar de porta em porta a pedir um presente de Natal na aldeia, e também um momento de encontro na casa dos avós para um almoço familiar. Tenho a convicção de que o Natal não pode ser reduzido somente a estes pequenos gestos que são, realmente, significativos, mas é uma ocasião de renovação espiritual e para acolher o Emanuel, que significa ‘Deus connosco’.
Uma vez, as crianças do primeiro ano de catequese perguntaram ao catequista o que era o Natal. O catequista ficou muito feliz e respondeu que se tratava da celebração do nascimento do Menino Jesus, celebrado a 25 de dezembro. As crianças ficaram satisfeitas com a resposta do catequista, à exceção de uma que, regressando a casa, questionou o avô – “Como é possível celebrar o Natal todos os anos? Será que o menino Jesus nasce todos os anos?” A criança procurava confrontar o que aprendeu na catequese com a realidade dos factos. O avô, cheio de sabedoria e experiência de vida, disse: “Meu neto, irás compreender estas coisas”. Estas e outras perguntas semelhantes apareceram durante a minha infância, não com a intenção de perturbar aqueles que podiam ajudar-me, mas sempre para perceber realmente uma certa celebração ou evento, seja histórico, político ou religioso. A curiosidade da criança da catequese era aquela de querer saber exatamente o que se celebra, mas, por vezes, as respostas concretas vêm com o tempo, à medida que se cresce, em “sabedoria e em graça”. Portanto, é preciso celebrar o Natal de forma diferente.
Em cada ano, o Natal é celebrado para lembrar que o ‘Deus connosco’ quer ser acolhido de uma maneira diferente. Ele quer estar sempre no meio das pessoas, e para isso acontecer é necessário mudar a maneira de viver esta experiência no quotidiano, ou seja, a forma como se interpreta hoje o nascimento de menino Jesus no dia a dia, e como é o testemunho de vida de cada pessoa após acolher Jesus. O Natal é, portanto, um privilégio e uma grande oportunidade para abrir o coração ao Menino Jesus. Ele transforma a vida de cada pessoa e faz-nos renascer. O Natal é uma ocasião para aceitar que o ‘Deus connosco’ habita entre os seres humanos.
Texto: Augusto Faustino, missionário da Consolata moçambicano