Desde criança que ouço dizer – ‘Ano novo, vida nova!’ Em pequena, cada ano novo era exatamente igual ao velho. Lembro as conversas de infância com a minha mãe em que dizíamos – ‘Ó mãe, nunca mais é Páscoa! Nunca mais chega o Natal!’ Ela dizia – “Agora que sois pequenos parece que o tempo não passa, mas quando forem grandes ainda haveis de dizer, ‘Oh!, já chegou a Páscoa! Oh!, já chegou o Natal’”.
Efetivamente, esse tempo chegou e, com ele, o desejo de viver essa vida nova. O que fazer? O Senhor encarregou-se de tudo e, tal como disse a Nicodemos –“Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”, – eu sentia que através da sua Palavra Ele me dizia o mesmo e, convidava-me a nascer de novo, a arriscar a minha vida por Ele. Depois de um tempo de discernimento e formação entreguei-lhe a minha vida através da profissão de votos Evangélicos – pobreza, castidade e obediência – e comecei a fazer parte da família das Irmãs Missionárias da Consolata. Foi como nascer de novo! Foi essa vida nova que me levou a conhecer novos países, culturas e pessoas, com as quais fui aprendendo novas maneiras de ser, de estar, de dar tempo ao tempo, porque aquele era o tempo que o Senhor me dava. “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, lê-se em Eclesiastes. A tarefa da irmã missionária não é apenas levar a Boa Nova de Deus. Dizia o beato José Allamano que “antes de fazer novos filhos de Deus era preciso promover as pessoas na sua dignidade, contribuindo para o seu bem-estar e ajudando-as a terem melhores condições de vida”. Por onde andei, trabalhei em diferentes campos de missão, apesar de alguns não serem propriamente a minha área de formação.
A área da educação, por exemplo, foi para mim um grande desafio, por ver aquelas crianças e jovens tão sedentos de aprender, a maior parte das vezes sem terem os materiais mínimos e indispensáveis. Essa situação motivou-me a dar o melhor de mim, para que eles, através de um maior conhecimento, pudessem vir a ter uma vida nova e melhor. No âmbito da promoção da mulher, o objetivo era o mesmo – dar às mulheres a possibilidade de adquirirem novos saberes para conseguirem meios para serem autossuficientes e viverem uma nova vida com mais dignidade. O que me deu mais satisfação foi a nível da evangelização – preparar as pessoas para receberem os sacramentos da iniciação cristã, e ver a alegria delas que, através das águas do batismo, recebiam uma vida nova em Cristo e se tornavam filhas de Deus.
Transporto no coração uma grande gratidão para com os povos de Moçambique, da Guiné-Bissau e de Itália, que me acolheram e me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje. Foi mais aquilo que recebi do que aquilo que dei. Não tinha bens materiais para doar, mas de uma coisa eu tenho a certeza, nunca deixei de escutar, de dar tempo aos outros.
E tu, porque esperas? Faz tu também uma mudança radical de vida, deixa para trás o que te torna pesado/a, despe-te dos preconceitos, arranca as máscaras que te amordaçam, não as que te protegem da covid-19 e que já te habituaste a usar, mas aquelas que usas não por necessidade, mas por conveniência! Nasce de novo e atreve-te a arriscar a vida por Jesus!
Texto: Anistalda Soares, missionária da Consolata